O caminho do sangue pelas minhas veias tornava-se difícil, e a função dos meus sentidos desvanecia. Já não sinto o teu perfume, já não recordo o sabor da tua boca na minha, esqueci por momentos a cor avelã dos teus olhos.
Eram cinco e vinte da tarde e seguindo a rotina habitual foquei o meu olhar no teu. E foi então que eu vi. Para mim a vida perdeu o sentido, se é que alguma vez existiu um. A passagem do sangue pelas minhas veias tornou-se difícil, e nas artérias, Oh!, aí era quase impossível. O meu coração batia com mais força, com uma intensidade bruta, mas eu sentia falta de vida, sentia-me vazia de mim.
Eram cinco e vinte da tarde e vi o teu olhar no dela. Os teus olhos tinham um caminho traçado e nada ia mudar isso, estavam perdidos na imensidão do seu corpo e reflectiam a alegria que te ia no coração.
Eram cinco e vinte da tarde. E tal como um dia fizeste com que me apaixonasse por esse teu olhar, nesse dia, às cinco e vinte da tarde, mataste-me com ele.
Cinco E Vinte Da Tarde... ( II )
O aperto no meu coração era cada vez mais forte à medida que proferias tais palavras, à medida que via os teus lábios mexerem em direcção à rejeição. Eu já o sabia. Sempre o soube, e na minha cabeça sempre o tentei adiar, mas eu sabia, sabia mesmo que mais cedo ou mais tarde ia acontecer. E foi nesse dia que eu percebi, que apesar de meio ano de espera tudo fora em vão, nada passara de uma paixoneta para ti, percebi nesse dia que tudo o que eu te dei foi um pensamento soltado no ar, deixado vaguear sem destino. Foi nesse dia que a razão me atingiu o coração, que a razão guardada na minha mente chegou ao destino. Foi nesse dia que percebi que tu morreras, e que não havia nada que te acordasse dos mortos.
O aperto no meu coração era cada vez mais forte à medida que proferias tais palavras, à medida que via os teus lábios mexerem em direcção à rejeição. Eu já o sabia. Sempre o soube, e na minha cabeça sempre o tentei adiar, mas eu sabia, sabia mesmo que mais cedo ou mais tarde ia acontecer. E foi nesse dia que eu percebi, que apesar de meio ano de espera tudo fora em vão, nada passara de uma paixoneta para ti, percebi nesse dia que tudo o que eu te dei foi um pensamento soltado no ar, deixado vaguear sem destino. Foi nesse dia que a razão me atingiu o coração, que a razão guardada na minha mente chegou ao destino. Foi nesse dia que percebi que tu morreras, e que não havia nada que te acordasse dos mortos.
As lágrimas escorriam-me pela cara, cortavam como facas, rasgavam os meus lábios e punham um amargo salgado na minha boca, que fazia lembrar o toque da tua língua, e que fazia com que mais ainda se formassem. Secava-as em vão, nada fazia com que parassem, a dor dentro de mim era intensa e bruta, e não parava, era cada vez pior, mais agoniante, mais dolorosa. E de repente senti-me desidratada, já estava a chorar há cerca de três horas, mas perdi por completo a noção do tempo. As lágrimas secaram, já tinha esgotado todas as reservas líquidas do meu corpo, e caí no chão, mas a minha alma ainda doía, ainda chorava. O chão estava mais duro do que sempre, parecia mais impenetrável do que sempre, e a luz esbatia-se, ao longe, fugia de mim, eu era um repelente de alegria, um repelente de um mínimo de felicidade. Parte de mim morrera naquele dia, às cinco e vinte da tarde, naquele dia que deveria ter sido um igual a tantos outros, mas foi Aquele Dia, e eram Cinco E vinte Da Tarde.
Abri os olhos. Não sei quanto tempo dormi, parecia-me já não existir tempo. Olhei para o relógio e eram cinco e vinte da tarde, outra vez cinco e vinte da tarde, e num gesto instintivo coloquei a mão no peito. Não sentia o bater do coração, sentia-o longe, sentia que já não o tinha dentro de mim. Senti um vazio inexplicável dentro do meu corpo, porque era mesmo assim, eu já não passava de um corpo. O coração já lá não estava, já alguém o havia levado, e não fora durante o meu sono, já havia sido há muito tempo. Levantei-me, mas faltava-me força. A minha pele ardia, os meus lábios estavam secos, e toda a água, a fonte da vida, estava perdida de mim. Arrastei-me para outra divisão da casa, mas doía-me o peito, e o esforço intensificava a dor. Queria chorar mas não conseguia, estava tão vazia de água como de vida. Bebi. Bebi como se a continuação do mundo dependesse disso, bebi como se fosse a última vez que via água, bebi como se mais nada importasse.A minha pele começava finalmente a recompor-se, a ganhar cor outra vez, a deixar arder. Os meus lábios estavam carnudos de novo, o meu corpo começava a receber vida, mas o meu coração continuava sem bater. Continuava a senti-lo fora de mim, continuava aquela dor aguda no meu peito, e teimava em ficar. Quando voltei com a mente à realidade, senti medo, medo de tudo o que se tinha passado, eu não conseguia compreender o que se passava comigo, não conseguia compreender a ausência do meu coração, a dor no peito e o vazio do meu corpo. Olhei-me ao espelho, e tudo estava igual. Tinha a mesma cara de sempre, o mesmo corpo de sempre, mas o coração permanecia fora de mim e a dor no peito teimava em ficar.Lembrei-me de ti, do teu olhar amendoado, do teu cabelo doirado e da tua forma de andar.
Lembrei-me desse teu ser, dos teus lábios perdidos nos meus, do teu perfume e das tuas mãos enlaçadas nas minhas. Lembrei-me do dia em que me disseste que eu era tudo de ti. Lembrei-me das cinco e vinte da tarde passadas contigo, e lembrei-me também do último olhar que me dirigiste. E tive vontade de chorar, na verdade eu tentei produzir lágrimas, mas o meu peito doía demasiado, e não tinha forças para tal, não tinha capacidade para desperdiçar água do meu corpo. Mas a minha alma, essa chorava, essa não ia parar nunca, essa sentia a falta do teu ar a todos os segundos. A certa altura senti a respiração difícil, e percebi que tal facto se dava porque o ar, o ar que eu respirava já não era respirado por ti. Doía-me o peito e a entrada do ar porque o ar, o ar que me entrava já não te entrava a ti também, porque tu estavas morto, estavas morto e nada te iria fazer voltar. E foi nesse momento, em que eram cinco e vinte da tarde, que percebi que a dor no peito ia ser eterna, porque não havia nada que te acordasse dos mortos.
E hoje a dor no peito ainda a sinto, ainda dói como no primeiro dia, e são cinco e vinte da tarde outra vez . Mas apesar de tudo, as reservas de água esgotaram-se, e também foi para sempre. E talvez tenha sido por isso, por pedido do meu corpo, do facto de eu ser Humana, que fez com que hoje, às cinco e vinte da tarde, eu desistisse de Ti. E isso também para sempre.
VERA MATIAS, 15 anos
9 comentários:
http://allineedtoleavebehind.blogspot.com/2007/12/cachopa.html
Não sei se servirá o propósito do tema da adolescência mas sentia-me uma quando escrevi este post. Deixo a seu juízo o valor do texto.
Cumprimentos
Vera, tenho mais 50 anos do que tu. E senti-te tão claramente! Escreves maravilhosamente mas o que me interessa dizer-te agora é o seguinte: parece impossível, mas um dia vais, pelo menos, sorrir desta dor de agora. O Tempo, minha Querida, é um curador emérito! Não acreditas, talvez, mas, peço-te, deixa ficar a Esperança. Não nele, mas no Amor. Porque Ele te aparecerá novamente, fonte de alegria e de vida. Porque, minha Querida, como diz o sapateiro Felipe, espanhol emigrado no Brasil, a Josué, professor jovem, amante e abandonado, "o Amor só é eterno porque nasce um novo Amor em cada dia". Estes dois, para que não me julgues louca, são duas personagens do romance "Gabriela, Cravo e Canela", de Jorge Amado.
Tens 15 anos! Que maravilha ter 15 anos! Não os percas, não deixes que tos roubem. Um beijinho da Avó Pirueta
Vera, voltei, para te dizer que se o teu texto for apenas uma criação literária, mereces os meus cumprimentos. Se, felizmente, aquele cinco da tarde não aconteceu contigo, ainda bem. Mas aproveito para te dizer que a receita do Tempo te será sempre útil... Um beijinho e acredita!
Avó Pirueta
É de facto um texto belíssimo, este, escrito pela Vera Matias.
Esta explosão de sentimentos, este vulcão em forma de Vera, é um momento alto do aprender a lidar com estes mesmos sentimentos.
Beijocas grandes para ti e um obrigada ao Raul por publicá-lo aqui, no lugar onde também mora.
Nao quero entrar em polémicas, mas o seu comentário de 07.08., a respeito das "unintended consequences", surpreendeu-me!!!
Leio com o maior interesse e prazer os textos "coracao adolescente".
Com uma pontinha de vergonha mando-lhe o apelo que fiz ao jovens, quando tinha 15 anos. Foi publicado no jornal "Républica". Ainda exixte esse jornal?
JOVENS!
ABRI AO AMOR
A VOSSA ALMA DORIDA
E COM A ALEGRIA
DE QUEM É JOVEM E FORTE
AMAI A PRIMAVERA,
AS FLORES,
A VIDA!
Olá Vera!
Li com grande emoção o texto maravilhoso que escreveste, "ninguém tem 15 anos," poucas pessoas escrevem assim com a tua idade, continua.
Nunca te esqueças que ainda és muito novinha, e se o que escreves no texto não é fictício, não te esqueças que depois de um grande amor, vem sempre outro grande amor.
E são esses grandes amores que nos levam até ao princípe,e o que fica para trás é evidente que marca, mas é isso que nos ensina a fazer
na altura a escolha certa...
Teresa, vou colocar o seu pequeno texto em post numa nova rubrica que vai ser "Adolescência... O olhar dos pais". Quanto ao comentário que refere talvez não tenha sido claro. Quando eu digo "torço o nariz" àquela perspectiva é no sentido de que não estou preocupado com isso; nós também partimos para outros povos e mundos e , apesar de questões negativas, foram mais as coisas positivas. Mas o que é certo é que há uma nova realidade na ordem mundial, e o que vai sair daí a ver vamos! Em relação ao povo chinês apenas lamento a pouco aberta que há em relação às questões dos direitos humanos, nomeadamente das mulheres e crianças. Peço desculpa de alguma má interpretação que possa ter deixado. Mas graças a Deus há pessoas atentas e nos ajudam a ver melhor as coisas.
Hoje li o texto do "não consigo" à turma do Gui. Gostaram e o Gui ajudou com pertinentes comentários. Ele certamente lhe falará disso.
Não sei se ainda existe o jornal que refere.
renard, vou colocar o texto que referes em poste mais acima.
Obrigado.
linde...linde e linde....
atão na é ca xorei? até li pá nha maria e quela vai rezar pá vera ter munta corage cainda é uma criença. muntes beijinhes pá vera
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