sábado, 9 de fevereiro de 2008

FORÇA MALTA JOVEM!


Foi o título que me ocorreu ao ler alguns textos do blog do filho de um amigo. Isto de andarmos neste mundo da blogosfera faz com que a comunicação e a partilha seja expontânea e fácil. Fui ao site deste (s) jovem(s) e fiquei encantado com a escrita. Eu pelo menos gostei e por isso aqui fica o meu incentivo para eles e fazer-vos um convite para uma espreitadela. Deixo ficar aqui uma pitada de um texto:

A primeira coisa que eu faço mal me sento no metro é abrir um dos jornais que tenho em minha posse. E a primeira página que abro é a da astrologia, que é uma arte que me fascina. Uma das vantagens de haver tantos jornais é que as previsões astrológicas são variadas. Isso intriga-me, já que as estrelas são as mesmas, as cartas são as mesmas, o alinhamento dos planetas é o mesmo e, ainda assim, num jornal tudo isto junto diz-me que vou ter dores de barriga e o outro diz-me para tomar particular atenção ao coração. Só se as cartas forem como a poesia, todos lêm e cada um interpreta à sua maneira. E eu, usualmente, escolho o astrólogo que mais me convém nesse dia, que é normalmente aquele que diz "Amor - Precisa de mais afecto da pessoa que ama" («Vês paixão?...Preciso do teu afecto...»), "Saúde - Vai-se sentir preguiçoso e sonolento" («Ó stôra, são os astros que me põe assim, eu por mim até fazia o exercício») e "Dinheiro - Algumas dificuldades" («Posso pagar amanhã o café?»).

E esta de se as cartas forem como a poesia, todos lêm e cada um interpreta à sua maneira!” Força. Escrevam e deixem correr a prosa e a poesia. Eu serei vosso leitor.

Só mais um bocadinho de um outro texto:


''Trazer as pessoas no bolso'' é uma óptima metáfora para explicar a forma como carregamos connosco as vivências de uma vida e as pessoas de uma vivência..Isto porque, ainda que usemos roupa sem bolsos, casacos sem bolsos, calças sem bolsos, há sempre um bolsinho, um local, um poiso, onde descansamos as memórias e deixamos que a nossa vida vá correndo, a olhar para o trás e para a frente, olhos postos no passado e no futuro, no conseguido e no por conquistar. Porque é tudo nosso, se uma série de factores se alhinharem e o 'tudo' acontecer.Porque nada é nosso se nada acontecer.

Digam lá que eu não tenho razão!

NOVO ESTATUTO DO ALUNO

O Aragem que me perdoe o abuso mas é preciso fazer chegar esta reflexão ao maior número de pessoas.

EDUCAMOS PESSOAS COM HISTÓRIA (2)

“Ninguém está “desligado” da sua história”!

A criatividade, o humor e o amor ao serviço da educação.

Por causa de uma entrada anterior com este título, um amigo fez-me chegar uma verídica história enternecedora que se segue ( já não se lembra de onde a tirou, por isso, o seu autor que nos perdoe o abuso):

José é um aluno muito carenciado, económica e afectivamente. A mãe é alcoólica e o pai não assume qualquer responsabilidade pela sua educação. O único que lhe dá algum apoio é um irmão mais velho. O José tem muitas dificuldades de aprendizagem e por isso já repetiu várias vezes no primeiro e o no segundo ciclos. O acontecimento que foi relatado passou-se quando este frequentava pela segunda vez o 5.º ano. Para terminar a caracterização do protagonista falta acrescentar que frequentemente punha o cabelo em pé aos seus professores e estes viam-se aflitos.

A professora Etelvina, que ministrava a disciplina de História na turma em que este aluno estava inserido, soube, por um aluno da turma, que o José lhe chamava a "Bruxa Má". Após ter conhecimento deste facto chegou à aula e disse: "Olhem, eu gosto muito de contos infantis, daqueles que metem reis, princesas, anões, príncipes e bruxas. Por isso, a partir de hoje eu passo a ser a Bruxa Má e o José o meu Príncipe encantado". O José, segundo a descrição da professora, ficou todo orgulhoso com aquela designação e passou a ter um comportamento completamente diferente.
Convém acrescentar que a professora a partir daquele dia passou a chamar-lhe sempre o "meu príncipe encantado".

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Mudam-se os tempos...

Sem comentários. É favor visitar já o Existente Instante.

Pelos meus amigos!

Sinto que devo fazer muito mais pelos meus amigos.
Noto que a maior parte dos dias não faço nada por eles.


Preciso de amigos, antes de mais, para me conhecer a mim próprio.
Acredito que aquilo que eu sou de melhor se manifesta na amizade
e é no diálogo com os meus amigos que me descubro a mim mesmo.

Preciso de amigos para encontrar força
e conforto para enfrentar as dificuldades da vida e conseguir vencê-las.



“Muito obrigado a Ti, Deus Oleiro,
porque modelaste a amizade
e a cozeste com a palma das tuas mãos.

Muito obrigado porque puseste ao meu lado
A presença afável do amigo.
....
Com os meus amigos vens Tu
Transformado em vagabundo, em sonhador,
Em homem ferido.
...
Muito obrigado, Deus do beijo e da carta;
Do abraço e da presença;
Do segredo e da confiança”

Autor desconhecido, citado por Atilano Alaiz

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

UMA RELAÇÃO COM ROSTO!

Compreensão e empatia - o colocar-se no lugar do outro para pensar o que ele pensa e sentir o que ele sente! E quão pertinente para a política!: Sem essa compreensão e empatia não há políticas credíveis, duradouras e consistentes.

Palavras que acabei agora mesmo de ler no site "terrear" do Matias Alves que me proporcionou lá deixar um comentário a que não resisti a colar também aqui:

Devemos, pois, ter um grande cuidado em estabelecer uma relação com rosto. Uma tarefa sem a qual tudo se desmoronará.

No desempenho da minha actividade como professor, e como aluno eu já sentia isto, sinto que quando estabeleço com os alunos uma relação de maior proximidade mais sucesso obtenho.

A proximidade de que falo é uma proximidade que leva os alunos a sentirem que são importantes para os professores.

Para o bem e para o mal, quase tudo se constrói a partir das relações que estabelecemos com os outros. É através delas que vamos construindo uma imagem do mundo, do outro e de nós próprios, mais ou menos colorida, mais ou menos a preto e branco, com mais ou menos luz.

Razão tem Bloch ao dizer que “a arte pedagógica é, antes de tudo, colocar-se à disposição dos alunos.” O professor vive a sua profissão como vocação: colocar-se à disposição dos alunos; gostar deles: compreender o seu mundo, descobrir os interesses que os animam; as suas motivações.

Código Dentológico! Também voto nisso. É hora!

O João Ribeiro não se vai zangar comigo por roubar algo que escreveu há dias no seu Nesta Hora:

"A Associação Nacional de Professores deseja um código deontológico para a profissão docente que seja “um ‘compromisso ético e profissional’ dos docentes para com a Escola, os alunos, os pais, a administração educativa e a sociedade em geral”, nos coloque perante algo quase tão necessário como o é pensar a educação. A ideia não é nova, sabe-se, mas deveria ganhar contornos de maior prioridade. Talvez a educação passasse a ser vista e sentida como algo diferente por parte de todos os envolvidos, sem os ritmos de instabilidade (seja nos programas, seja nos curricula, seja nas regras do exercício da profissão, seja na organização, seja na autonomia,…) que, de vez em quando, em nome de mudanças e de inovações nem sempre necessárias, vão surgindo!... Voto nisso."

O nosso tempo e energia!

Agora que andamos nestas lides de viajar na blogosfera, podemos ler palavras deliciosas como a que Teresa escreve no texto O beijo e a razão no seu blog http://tempodeteia.blogspot.com/ (perdoem, ainda não sei fazer melhor do que isto; lá chegarei!):


" É assim que quero gastar o meu tempo. Ao serviço deles e não de políticas retalhadas que esvaziam a escola de sentido e são concebidas por quem se esquece do mais básico e elementar:
nas escolas há... alunos!
(Que precisam de tempo, do nosso tempo, da nossa maior e melhor energia...)"
E acrescento estas de Zenita Guenter:

“As crianças aprendem o que são e quem são através do clima da sala de aula, do tratamento recebido pelos professores, das implicações abertas ou veladas de seus próprios sucessos e fracassos. E são essas aprendizagens não planeadas que provavelmente produzirão efeitos mais significantes e permanentes do que aquilo que é ensinado, propositadamente, pelo professor.”

Parabéns Teresa pelo Clima de Sala de Aula que propicia aos seus alunos!

Carpe diem!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Não sejamos professores distraídos!

O desenvolvimento dos alunos depende mais da nossa interacção com eles nas pequenas coisas da prática pedagógica do que de discursos “moralistas” que lhes fazemos quando parecem abusar da nossa autoridade.

As pessoas aprendem quem sãoe o que são
através da maneira como são tratados
pelas pessoas importantes na sua vida”

Zenita Guenter

Educamos pessoas com HISTÓRIAS DE VIDA.

Razão tem Zenita Guenther quando diz que a visão do mundo é diferente para cada pessoa, porque cada um enxerga o mundo através desse crivo estabelecido pela sua percepção de si mesmo. E continuando com o seu pensamento, se pudéssemos saber exactamente como a pessoa se percebe, poderíamos compreender com grande clareza, e até prever com grande precisão, a maior parte do seu comportamento.

Então, é importante estarmos atentos aos sinais que os alunos nos lançam para os podermos compreender e maior responsabilidade temos sobre os ombros se nos podem ajudar a evitar determinados comportamentos. Deixo aqui um texto feito por um aluno e que me incomudou. Pedi para ficar com ele, assim como autorização para o usar.


Pai, as Palavras que nunca te disse...

(Aparte - Os meus pais estão separados. O meu pai tem um café e trabalha numa gráfica. Eu tenho um padrasto e uma madrasta. Estou a viver com a minha avó e só estou com o meu pai de quinze em quinze dias).

As palavras que nunca te disse ...!

São tantas. Eu sei que não é por tua culpa mas quase nunca me podes ouvir. Às vezes nem sei porque me queres aí. Muitas vezes deves estar no café e dizes à minha madrasta que atenda e que diga que não estás, quando eu sei que é mentira, e isso causa-me dores insuportáveis no coração e na mente.

Porque será que não me queres aí?
É como se estivesses morto.
Porque te escondes?

Quando estou aí pouco falámos e, à tarde, de tão cansado que estás vais dormir. Os mortos é que dormem e não falam! Tu estás tão distante do que me vai no coração. Quando estou contigo pedes-me novidades e todas as que te posso dar são físicas e não interiores. Sinto-me como se estivesse sentado numa linha entre ti e a minha mãe. Como se fosse o raio da discórdia e da desilusão.

Preciso de falar e desabafar, mas tu estás mais morto que vivo, tudo por causa do trabalho ou será por causa de mim? Tantas palavras que escrevi, tantas palavras que queira dizer. Mas nunca as disse porquê? Porque não é culpa tua mas sim minha e do trabalho.

Adoro-te. Mesmo só com essa parte viva, adoro-te. És como se fosses um pai fantasma. Como o da “Lua de Joana”. E o teu café e o apartamento são o teu túmulo. Estás cansado de ler estas palavras que já escrevi? Pois são estas malfadadas palavras que nunca te disse...

Há mais! Nos confins da desarrumação da minha mente. Não quis ser duro contigo. Só quis esclarecer isto do modo mais suave que encontrei, ou seja a escrita da carta. Falado, isto iria parecer piegas, mas assim já não sinto o pesar da dureza, mas o impulso da escrita.

Isto é como uma conversa a sós num banco do jardim, ao pôr do sol. Depois da calamidade vem a calma do bem-estar. Já me sinto mais solto, mais livre de pensar sem mágoa.

Já sabes que tenho muitas saudades de antes de teres comprado o café quando íamos passear a todo o lado. O que mais gostei foi quando fomos a Braga. Nessa altura estavas mais vivo e cheio de saúde.

Liberta-te pai! Liberta-te da morte e do cansaço. Ao menos por um dia. Queria continuar a falar-te de mais palavras que nunca te disse. Adoro-te tal como és e continuarei a adorar-te . Mesmo morto! Só queria fazer o que nunca tinha feito antes.

Pai, estas são as palavras que nunca te disse...

T. V. (8º D)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

HÁ QUE REMAR

A vida não está fácil para os professores!

Quando eu era pequeno, lembro-me que, ao perguntarem ao meu pai como ele estava, ele respondia sempre: Como Deus quer, a gente pode e os outros deixam. Na altura não percebia muito bem o que ele queria dizer com esta última premissa. Hoje percebo o que ele queria dizer com aquilo e tem razão. Hoje, como professor, daria a mesma resposta e... os outros... já sabem o que quero dizer.

Mas estou tranquilo. E eu, como todos os meus colegas, não desanimaremos porque vale a pena sofrer por aquilo em que acreditamos. E não disistiremos de inventar dias mais claros... E cito Santos Guerra: "Quando o vento não é favorável, tem de se remar. Quando aumentam as dificuldades de sermos nós próprios e de sermos alguém, quando o vento é contrário e não nos deixa avançar na direcção certa, há que ter a cabeça liberta, o coração bem aberto e recorrer a todas as forças para navegar contra a corrente. Não é fácil, mas é absolutamente necessário." in No Coração da Escola, pg 343.
A ARTE DO PASTOR: CULTIVAR E GUARDAR
A reverência ao Homem
não pode separar-se da reverência
ao que está abaixo dele (a Natureza)
e ao que está acima dele (Deus)”
Goethe





Desde sempre o Homo Sapiens procurou modificar o ambiente a seu favor. Porém, até ao século XIX, a acção do homem na natureza foi relativamente limitada e deixou intacto grande parte do planeta. Em contrapartida, após a industrialização, o homem tornou-se um perigo sério para a natureza e, por conseguinte, para si mesmo.

Actualmente, a humanidade – face ao crescimento acelerado que se tem verificado nos últimos anos – enche o ambiente, no qual vive com as outras criaturas, com os resíduos daquilo que produz e consome, inquinando os elementos que promovem a vida do nosso planeta, sobretudo a água e o ar. Além dessa crise ecológica, deparamo-nos, também, com uma crise energética e de matérias primas.

E eu, como cristão, que reflexão posso fazer neste contexto? Quantas vezes não pronuncio a fórmula confessional “Creio em Deus-Pai, Criador do Céu e da Terra...”? O que queremos dizer quando confessamos que o Universo é Criação de Deus? Qual o nosso contributo e a nossa responsabilidade?


Antes de mais, o Universo é um don de Deus para o Homem, que ama e dá valor à sua Obra: “Deus vendo toda a sua obra considerou-a muito boa” (Gen. 1,30). Mas é, também, missão para o Homem: “...Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a Terra.”(Gen. 1,28); “...O Senhor colocou o Homem na Jardim do Éden, para o cultivar e para o guardar...”(Gen. 2,15).

Nestas citações, realçamos algumas palavras que consideramos fundamentais: Por um lado, enchei e dominai – o homem que deve dominar e sujeitar a natureza. Não colocamos em causa a subordinação de toda a Criação ao Homem. Por outro lado, cultivar (preparar a terra para que ela produza; educar; conservar; dedicar-se, isto na conjugação reflexa) e guardar (proteger; pastorear), ou seja, o homem é chamado à “arte do Pastor” de que falou Sócrates.

Eis, pois, a nossa responsabilidade sobre o Universo. E é nesta linha que tem de ser entendido o progresso humano.

A Criação não é algo de estático, feito de uma vez para sempre, mas que tem de ser visto na sua dinâmica histórico-social em que o Homem é chamado a exercer o seu papel criador a fim de aperfeiçoar, desenvolver e construir uma sociedade digna de o acolher. Nesta linha, o verdadeiro progresso humano, visto à luz do mistério da Criação, será aquele que permita ao homem o seu desenvolvimento e a plenitude da sua vocação integral. Tal como a Criação, o progresso do mundo está destinado para a felicidade do homem e não para a sua degradação.

O Homem é o Pastor do Universo na medida na medida em que tem de guardar e proteger a herança que recebeu e que por sua vez tem de deixar a outras gerações; é a responsabilidade de não deixar atrás de si um deserto mas um jardim, porque este mundo não é meu nem alguém se pode afirmar como o dono do mundo porque ele é de todos. Por isso, é necessário agir seriamente, em primeiro lugar em relação à geração presente, nomeadamente aquela parte da humanidade com menos recursos e que sofra, em grandes proporções as consequências do problema ecológico e, em segundo lugar, às gerações futuras, investindo na educação, como o mais essencial dos recursos.

É a vida de cada um de nós que está em jogo. É a nossa felicidade que, infelizmente, hoje se joga na roleta do económico que é preciso transferir para a roleta do humano. Enfim, somos chamados à “arte do pastor”: a dominar mas a cultivar e a guardar. O mundo não é só laboratório mas também é jardim; é lugar de recreio e gratuidade.

A educação tem de ajudar o Homem a revelar-se como pessoa, cheia de potencialidades e a manifestar essas potencialidades de modo a que, algumas das grandes questões com que ele se debate sejam, de certa forma, acalentadas: “Quem sou, ou o que sou? Donde venho? Para onde vou?”. Tudo isto deve ser feito em consonância com a realidade das potencialidades do Homem e o próprio mundo envolvente. Desta forma, a educação encontra a sua razão de ser, a sua objectividade, pois, assim, o esforço humano não cai num “sem sentido”.



Crianças para o Amanhã

Educação para o desenvolvimento e para a responsabilidade: uma forma de promover a disciplina.

Segundo Orlando Lourenço (1993, 1996), educar para o desenvolvimento e responsabilidade, é uma das maneiras de lidar com a crise de disciplina que tem invadido as escolas, a família e a sociedade. O que apresento de seguida são sugestões retiradas dos livros citados que dão pistas para a transformação das escolas em contextos mais criativos, inteligentes e justos. Portanto, para a transformação das escolas em locais onde a disciplina seja algo que se respire naturalmente e não bolsas de oxigénio atrás das quais tenhamos sempre que andar.

Não sejamos professores distraídos! O desenvolvimento dos alunos depende mais da nossa interacção com eles nas pequenas coisas da prática pedagógica do que de discursos “moralistas” que lhes fazemos quando parecem abusar da nossa autoridade.

“As pessoas aprendem quem são
e o que são
através da maneira como são tratados
pelas pessoas importantes na sua vida”
Zenita Guenter

Não nos afirmemos pelo poder! Isto é, não sejam professores autoritários ou que se afirmam pelo poder, nem professores permissivos e que deixam fazer tudo aos seus alunos; sejamos antes professores calorosos e exigentes, embora sem esquecer que a exigência deve ser adequada à idade do aluno.

“Aprende-se pouco
das pessoas que não são importantes para nós”
Zenita Guenter
Devagar que tenho pressa!... Respeitemos o ritmo de aprendizagem da criança e do aluno se queremos que eles venham a chegar longe. Educar para o desenvolvimento e para a responsabilidade não é ir depressa, mas chegar longe.

“...Vai-se pondo degrau após degrau,
até que atinja a maior altura possível
segundo a vocação
e a força que haja em cada um”
Agostinho da Silva

Justo sim, santinho não! Interessa mais ajudarmos o jovem a compreender o sentido da diferença, dos outros e de alguns princípios do que exigir-lhe que seja obediente e bem comportado. Interessa, enfim, que ele, e nós próprios, sejamos mais justos do que “santinhos”.
Bonitos? Claro que sim! A beleza ajuda ao desenvolvimento. Como querer que os jovens sejam bons e inteligentes, se não os educarmos para serem sensíveis à beleza?!

Castigar? Não, por favor! O castigo é uma óptima coisa! Desde que não utilizada! É ineficaz enquanto prática de socialização, causa mal-estar em quem o recebe e leva a contra-ataques.

O enigma da felicidade: Decifre-o! Se queremos ajudar a construir a felicidade de alguém, não podemos passar a vida a dar-lhe ordens, ainda que disfarçadas de pedidos. Estimulemos antes o seu sentido de competência e de controlo sobre as coisas.

“impõe-se, na nossa comunicação,
fazer crescer a apetência pelo saber,
a vontade de investigar e de criar...
cada um sentir-se útil e, por isso, melhor e mais feliz.”
J. Gil da Costa

Faça-o pró-social! Quem é altruísta e ajuda os outros, também ganha com isso. Educar os jovens para a responsabilidade social é uma forma de os educar para o desenvolvimento e para os valores. Uma forma, pois, de diminuir a indisciplina na escola e a delinquência na sociedade.

Sim à pessoa, não à posição! Eduquemos os jovens no sentido da justiça ou do respeito pela pessoa, não no sentido da posição ou da reverência para com os poderosos e distribuidores de favores. Enquanto as escolas e famílias pessoais promovem o desenvolvimento, as famílias e escolas posicionais dificultam-no.

Auto-estima: Estime-a, por favor!

Obedecer aos professores: Porquê? O respeito mútuo é mais justo e pedagógico do que o respeito unilateral exigido por alguns professores aos seus alunos.

Os professores também têm direitos! Não pensemos que temos de viver apenas para promover o desenvolvimento e a felicidade dos nossos alunos. A nossa felicidade de professores ajuda, não dificulta, a felicidade dos alunos.

Mais interacção, menos discurso! Se queremos que os nossos alunos não sejam alunos difíceis, falemos com eles, não falemos apenas para eles. Professores autoritários tendem a fazer discursos; professores competentes tendem a interagir com os seus alunos.

O enigma da criatividade: Decifrável? A criatividade não é um dom da natureza, nem algo só para os sobredotados. Todos os alunos são capazes de condutas criativas. Se estimularmos o seu sentido de competência, de auto-estima e de participação ajudá-los-emos a serem mais criativos.

Dever mas também aspiração! A escola fica aquém da sua missão quando educa só para o dever. Importa muito estimular os alunos a irem além do dever e a gostarem de alcançar padrões de excelência. Quanto mais a escola educa só para o dever, tanto mais confere títulos sem conteúdo. Ainda que sejam de mestre ou de doutor!..

Penso, logo educo! Os professores que não se limitam a pôr rótulos aos comportamentos negativos dos seus alunos, procurando antes compreender as situações que lhe dão origem, são professores perspectivistas, professores que, em geral, têm menos indisciplina e problemas de autoridade nas suas turmas.

Também tenho dúvidas! Educar para o desenvolvimento e para a responsabilidade é mostrar às crianças e aos jovens que fazer perguntas e ter dúvidas pode ser tão importante quanto dar respostas e ter certezas. Educação que não ensina a questionar é educação sem qualidade.

Educar para a paz. Educar para a justiça. Os outros também existem!
Todos, muitos e só eu! Uma forma competente de educar os alunos para a cidadania e responsabilidade é ajudá-las a ver que cada um de nós é, em muitos aspectos, igual a todos os outros: sentido de universalidade; semelhante a muitos outros, em vários pontos de vista: sentido de pertença e de comunidade; e diferente de todos os demais em questões de foro íntimo: sentido de individualidade.

O seu ao seu dono: amor, contexto e actividade. Para a criança se desenvolver precisa de ser amada, ter contextos ricos em quantidade e qualidade e liberdade para agir e para explorar o meio. Quanto mais estes aspectos estiverem presentes menos serão prováveis as crises de disciplina na escola.

É acreditar que estamos a preparar jovens para o futuro que, como há tempos li do nosso cientista Carvalho Rodrigues “é muito novo, porque é muito antigo, e vem em todos os livros sagrados: É que, um dia, nós, em vez de comunicar, vamos comungar. E nesse dia, o bem de um é o bem de todos, o mal de um será o mal de todos.”

A transformação das escolas em comunidades justas é uma das maneiras mais pedagógicas e humanas de lidar com a questão da crise de disciplina que parece ter invadido as famílias, as escolas e a sociedade. Tal transformação é fácil de referir mas difícil de incrementar.

Não cometamos o erro educacional fundamental! É melhor que a escola elogie o aluno quando se comporta bem do que o censure ou castigue quando se comporta mal. Achamos que a criança mais não faz que o seu dever quando se comporta bem, nada merecendo por isso, mas deve ser castigada quando se comporta mal.

Eu sou capaz!... É muito educativo que a família e a escola promovam o sentido de auto-eficácia da criança e do jovem. Se a escola e a família ouvirem a sua voz em problemas que lhes dizem respeito, ajudá-los-ão a ser mais autónomos, por um lado, e mais próximos dos colegas, pais e professores, por outro.

Educar para o perdão? Sim, mas é melhor educar para a justiça. Às vezes somos obrigados a pedir perdão sem ter feito mal nenhum!

Sim, mas ainda não! As crianças e os jovens também devem aprender a auto controlar-se, ou a perceber que não podem fazer e ter tudo o que gostam “agora e já”. Muita indisciplina e delinquência tem a ver com a ideia de que se pode ter quase tudo sem quase nada fazer.
Penso, mas também sinto! É importante que a escola eduque para a inteligência, literacia e razão (os chamados três “Rs”: “reading, writing e reasoning”), mas também para o afecto, intimidade e emoção (os três “Cs”: “care, concern e connection”).

Brincar também é importante!

Se a escola não fosse tão aborrecida; se na escola houvesse mais comunicação e afecto; se os professores forem modelos de coerência, auto-respeito e responsabilização…. Não haveria na escola tanta crise de disciplina; crises de disciplina, contudo, sempre as houve e haverá.

Bibliografia:
Lourenço, O. (1993). Crianças para o amanhã. Porto: Porto Editora.
Lourenço, O. (1996). Educar hoje crianças para o amanhã. Porto: Porto Editora.