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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

"Mãe" Rosinha!



Ainda ontem "arranhava" uma canção do Paco Bandeira, "... sou filho de muitas mães..." e cá em casa "debatemos" as "mães" que a "vida" me deu: Mãe Natália, que me gerou; "Mãe" Madre Monteiro, prima e madrinha do meu pai que me acompanhou desde a morte do meu pai; "Mãe" Odete, minha sogra (que me conheceu muito antes de eu conhecer e me apaixonar pela filha, a minha Émy -quase 10 anos antes, era eu uma criancinha!); "Mãe" "Jájá" (nome carinhoso com que toda a família chamava à tia Sara, irmã do meu pai); "Mãe" Julieta, prima que também me acompanhou até eu me casar e "Mãe" Rosinha, mãe do meu "IRMÃOmaisNOVO"" Diogo Castro do qual já fui falando de quando em vez por aqui.

E é da "Mãe" Rosinha que hoje vos quero falar. Recebi a notícia que faleceu ontem à noite. E a memória levou-me a regressar aos tempos em que vivi em Vila do Conde (dois anos) e onde, depois de sair de lá, ia aos fins de semana. Do "palco" do meu coração vejo-a a receber-me, quando por lá aparecia, sempre com um sorriso... os bolinhos secos que ela fazia e que eu e o Diogo devorávamos; o leite creme; o chocolate quente no inverno... os "troquinhos" que ela dava ao Diogo para irmos ao cinema... Tanta coisa para lembrar!

E do "palco" do meu coração também vejo a sua tristeza no dia em que o Bom Deus chamou a si o Diogo. Nunca mais voltou a ser quem era. Nunca mais o sorriso foi o mesmo. Nunca voltei a entrar naquela casa sem que me abraçasse e me desse um beijo e uma lágrima lhe corresse pelo rosto. Agora foi ela que partiu, 31 anos depois da partida do filho.

Hoje, do "palco" do meu coração imagino o reencontro de mãe e filho. Um reencontro no coração de Deus. Acredito!

Obrigado "Mãe" Rosinha, por teres sido uma das muitas "mães" que a vida me deu. Ainda ontem falávamos sobre isso... Coincidências! Mais uma estrela no céu a olhar por mim. Até um dia, "Mãe" Rosinha! Vamos encontrar-nos todos, algures, um dia, no coração de Deus!

P.S.: A vida deu-me muitas "mães"  porque infelizmente estive 16 anos sem a presença da minha mãe. O meu pai faleceu de acidente quando iam de Benguela para Luanda para virem para Portugal passar o Natal. Ficou traumatizada com o acidente e sempre foi adiando a vinda a Portugal. Só o fez 16 anos depois da morte do meu pai. Assim, foram todas estas "mães" o meu "amparo". História de vida!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

UBUNTU: "SOU QUEM SOU, PORQUE SOMOS TODOS NÓS!"

O texto que a seguir vos deixo, chegou-me por mail. Para a vida em família, para os grupos de jovens, para as equipas de trabalho, para uma ideia de Europa... Enfim... Um momento de reflexão. Aqui fica o texto:

A jornalista e filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006), presenteou-nos com um caso de uma tribo da África chamada Ubuntu.

Contou que um antropólogo estudava os usos e costumes da tribo e, quando terminou o seu trabalho, teve de esperar pelo transporte que o levaria até o aeroporto, de volta para casa. Sobrava ainda muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo. Então, propôs uma brincadeira para as crianças, que achou ser inofensiva.

Comprou uma porção de doces e guloseimas, na cidade. Colocou tudo num cesto bem bonito, com um belo laço de fita, e colocou debaixo de uma árvore. Então, chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!", elas deveriam correr até o cesto. A que chegasse primeiro ganharia todos os doces que estavam lá dentro.

As crianças posicionaram-se na linha demarcatória que ele desenhou no chão e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "já!", instantaneamente, todas as crianças se deram as mãos e saíram a correr em direcção à árvore com o cesto. Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e os comerem felizes.

O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque tinham ido todas juntas, se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.

Elas simplesmente responderam: "Ubuntu, tio. Como é que uma de nós poderia ficar feliz, se todas as outras estivessem tristes?"

Ele ficou desconsertado! Meses e meses trabalhando, estudando a tribo, e ainda não havia compreendido, de verdade, a essência daquele povo. Ou jamais teria proposto uma competição, certo?

Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"

quinta-feira, 8 de abril de 2010

HISTÓRIAS DE VIDA!

Histórias de vida! "Pedra a pedra, construindo um novo dia!..." Um bom vídeo para mostrar aos nossos jovens e educá-los contra a inércia que hoje é doença comum entre eles.

sábado, 5 de julho de 2008

A CRIANÇA MAIS CARINHOSA



Via Clube de Contadores de Histórias

O amor é tudo.
É a chave da vida,
e são as suas influências
que movem o mundo.


Ralph Waldo Trine

Escritor e conferencista, Leo Buscaglia contou que uma vez lhe pediram que fosse júri de um concurso. O objectivo do concurso era encontrar a criança mais carinhosa. Quem ganhou foi um menino de quatro anos, cujo vizinho do lado era um homem idoso que perdera recentemente a mulher. Ao ver o homem a chorar, o rapazinho entrou no quintal dele, subiu-lhe para o colo e ficou ali sentado. Quando a mãe lhe perguntou o que dissera ao vizinho, o rapazinho respondeu:— Nada, só o ajudei a chorar.

Ellen Kreidman
Canja de galinha para a alma
Mem Martins,
Lyon Edições, 2002

segunda-feira, 9 de junho de 2008

HISTÓRIAS DE VIDA (II)

UM TEXTO AUTOBIOGRAFICO
DA AVÓ "PIRUETA"…

Estava, agora, na 4ª classe, fui estudar para o Colégio de S. José de Cluny. Era um colégio caro, de gente rica, muito bem apetrechado, de freiras e com alunas internas, semi-internas e externas. Existiam vários prémios, que eram dados período a período, no salão solene, onde todos os dias nos íamos reunindo quando chegávamos até tocar para entrar, e onde se rezava para começar bem o dia. Eu entrei para este colégio porque era boa aluna e havia uma espécie de quota para alunas pobres, e o meu tio conseguiu, usando os seus conhecimentos, colocar-me lá e eu não pagar. Era uma aluna acima da média, mas era uma aluna que não se destacava, porque aquele colégio era frequentado por meninas muito bem. Era a nata social. E apesar de ser boa aluna, nunca recebi senão a medalha de aplicação. As fitas de bom comportamento e de distinção, que se usavam traçadas como as faixas das misses, eram só para as meninas finas, não para brancas de musseque que estavam lá por esmola.


Um dia, a minha professora, que não era freira, e se chamava D. Magda, disse:
— Hoje, vocês, quando forem almoçar a casa, perguntem quem é que tem que fazer a admissão. Quem é que vai fazer a 4ª classe e quem é que vai continuar a estudar. Quem continuar a estudar, não precisa de fazer a 4ª classe, só faz a admissão e depois vai para o liceu. Quem não quiser continuar, tem que fazer a 4ª classe, porque precisa de ter um diplomazinho, para um dia que queira arranjar um emprego no Estado.
Lembro-me perfeitamente de ela dizer isto, o “emprego no Estado”. O nosso bichinho de querermos todos ser filhos de um Estado-Mãe já naquela altura existia… Eu não disse nada a ninguém, em casa. Naquela altura tinha 9 anos, ia fazer 10, mas não disse nada a ninguém. E, à tarde, quando chegou a minha vez de responder, dei por mim a dizer isto:
— Vou continuar a estudar.
E a professora, que sabia da minha situação económica, disse:
— Tu tens a certeza? Perguntaste ao teu pai?
— Tenho. Eu perguntei-lhe, e ele disse que eu era muito inteligente e que ia continuar a estudar.
Pronto. Estava feito. Lembro-me de que fui fazer a admissão em Janeiro, porque naquela altura o ano lectivo era diferente cá e lá. Sensatamente, por causa do clima. Nessa altura ainda morávamos na Sambizanga, que ficava muito longe do Liceu Nacional Salvador Correia, onde fui fazer a admissão. Tive que fazer um caminho enorme, de quilómetros, a pé, ao lusco-fusco já, sozinha, e tinha que passar pelo Cemitério do Alto das Cruzes, vulgarmente conhecido por Cemitério Velho, que tinha grades em vez de muros. Como tinha chovido e estava muito calor, havia fogos-fátuos, mas eu não sabia o que era e fiquei muito assustada. Via luzinhas muito ténues, com um tom azulado no meio, que vinham da terra e rapidamente se apagavam. Corri, corri, até chegar a casa sem fôlego e perdi o meu Bilhete de Identidade.
Tinha ido fazer exame de admissão ao liceu mas não disse nada disso aos meus pais! Disse que tinha ido fazer exame tout court. No dia seguinte, comecei a trabalhar na loja e a tomar conta do meu irmão mais novo que, entretanto, tinha nascido, em 1952. Fiz os 10 e os 11 anos e calei-me muito bem caladinha, não disse nada a ninguém, porque eu sabia, de alguma forma sentia, que não estava na altura de pedir para continuar a estudar. Tinha sido essa a intenção, porque eu tinha uma noção claríssima de que vivia num buraco e que só pela instrução conseguiria sair dele. Não sei como o sabia, mas sabia. Nunca tive dúvidas de que iria continuar a estudar.
Ao fim de dois anos, comecei a dizer:
— Oh pai, tenho que ir estudar, porque ….
— Tens que ir estudar porquê?
— Tenho que ir estudar, porque eu não fiz a 4ª classe, não tenho nenhum diploma, e um dia, se eu quiser arranjar um emprego, não posso.
— Mas, então, tu não andaste no colégio?!
— Oh pai, a professora disse que eu era muito inteligente e que eu tinha que estudar. Eu não fiz o exame da 4ª classe, fiz o exame de admissão ao liceu. Por isso é que foi preciso tirar o Bilhete de Identidade.
Andei dois anos a convencê-lo. Todos os dias falava nisso. Todos os dias dizia que não tinha diploma. Acho que ele acabou por me deixar ir para o liceu por puro cansaço. Eu já tinha então 13 anos, estava quase a fazer 14, quando fui para o 1º ano, no Liceu Feminino D. Guiomar de Lencastre, lá em cima, ao lado do Quartel-General. Portanto, estive três anos lectivos fora da escola, dois anos e meio, em termos cronológicos.
Fui estudar mas o meu pai pôs a seguinte condição:
— O teu trabalho ninguém o faz. Portanto, se quiseres ir estudar, vai, mas o teu trabalho ninguém o faz.
O que é que ele queria dizer com isto? Queria dizer que precisava do meu contributo para a economia familiar e, portanto, se eu queria estudar, tinha que me sair do corpo.


Bem, agora uma achega positiva: o meu pai precisava de papel para usar na loja e ele era muito caro. Então ele descobriu que se comprasse livros usados, ao quilo, lhe saía mais barato. E aí estava eu a aviar três tostões de massa de tomate em meia folha arrancada, digamos, de uma obra de Victor Hugo. Ou cinco tostões de açúcar numa folha de Aquilino Ribeiro. Algo se rasgava dentro de mim também, quando arrancava uma folha. E assim eu ia “roubando livros, que lia diante, à luz de um candeeiro de petróleo, pasme-se, debaixo de uma tenda que fazia com uma coberta. Escondia-os debaixo da cama e, à medida que ia lendo, voltavam a seguir o seu destino fatal. Lembro-me que tinha que ter cuidado para não fungar, especialmente com “A cabana do Pai Tomás”, “David Copperfield,” “ Oliver Twist”, “Os Miseráveis” e o “Amor de Perdição”, pois faziam-me chorar a alama.
Volta e meia o meu pai queixava-se de que os livros desapareciam. Pois. E eu calada, só me faltava assobiar para o lado… Mas foi assim que eu descobri que havia um outro mundo, onde era possível chegar através da Escola.

domingo, 8 de junho de 2008

HISTÓRIAS DE VIDA

ONLINE COM CARMO CRUZ

Dei comigo a preparar as minhas aulas desta semana que está à porta e procurava um exemplo de alguém que tivesse dedicado a sua vida em prol dos outros. Lembrei-me do Padre Damião, Madre Teresa de Calcutá, Raoul Follereau, entre muitos outros. De repente, lembrei-me da Carmo Cruz, a nossa Avó Pirueta. Isso mesmo! Eureka! Dedica-se ao voluntariado em Angola. Podem colocar algumas questões a que não deixará de dar resposta. Poderão vir a conhecê-la , se calhar, daqui a alguns meses. Está resolvido. E nesse instante peguei no computador e fui ver se a Carmo estava on-line. E estava. E na sua bondade e paciência de sempre, aturou-me durante alguns minutos, e não foram poucos. O resultado está aqui:


Raul: Bem, Carmo, estou aqui para lhe fazer uma proposta: uma pequena entrevista aqui... para publicar e dar a conhecer a Carmo aos meus alunos, aceita?
Carmo: Of course! E é claro que irei à tua Escola quando for preciso, desde que esteja em Portugal.
Raul: Claro... eu conto com isso. Vamos começar a pequena entrevista?
Carmo: Vamos lá. Dispara!
Raul: Como surgiu a ideia de ser voluntária?
Carmo: Quando vi que, depois de ficar aposentada, ficaria com a vida muito vazia. E quando comecei a pensar que não queria voltar a trabalhar para ganhar dinheiro, porque, para isso, então não deveria ter pedido a aposentação.
Raul: Vida vazia! Quer explicar?
Carmo: Bem, eu sempre trabalhei muito. Fiz coisas muito diferentes, e penso que elas me ajudaram a ser melhor Professora. Vivia a dois minutos da Escola, passava lá a minha vida, adorava ser professora. Mas o meu Marido estava aposentado, começámos a fazer projectos a dois, eu já tinha 40 anos de serviço... Estava na hora de começarmos o meu sonho: “Envelhecermos juntos, com qualidade”. De repente, em minutos, tudo se desmoronou com a morte santa mas súbita dele. Os filhos estavam criados, tenho uma empregada há trinta anos de que não me quero afastar, que me restava fazer? Ir a chás de velhotas? Dizer que “no meu tempo é que era bom”? Mostrar as fotos dos netos? Com tantos "netos" sem "avós"?
Raul: Sabemos que esteve como voluntária em Moçambique e agora está em Angola. Porque escolheu estes dois países?
Carmo: É melhor explicar que tentei começar em Portugal, primeiro. O que, em vez de satisfação interior, me trouxe alguma desilusão. Mas deixemos isso. Comecei com Moçambique por causa das cheias. E pela minha ligação às Irmãs Franciscanas da Imaculada Conceição. Sou, digamos, uma espécie de "freira laica". Moçambique é muito pobre e tem um povo absolutamente amorável. Tenho vários "filhos" e afilhados lá, estou a criar um menino, em Quelimane, na Aldeia da Paz, estou a ajudar o Lourenço a tirar um curso, criei uma Associação de Mulheres com acesso ao micro-crédito, uma Escola Profissional. Moçambique é onde está o meu coração. Foi lá que me reencontrei. No fim de 2005 vim a Angola de visita. Angola era um espinho e uma rosa no meu peito e na minha vida. Vim para Angola a pedido de pessoas amigas, do meu tempo de criança. Que ajudavam pessoas em necessidade sob várias formas e especialmente com dinheiro. E que quase tinham ciúmes da minha ligação a Moçambique... Começaram a desafiar-me. E eu deixei-me cativar…
Como tenho dito no blogue, sinto que todos os ocidentais devem alguma coisa a África. Estou a tentar fazer alguma reparação. O que se ganha com isso não tem preço.
Raul: Neste momento, em Angola, com quem trabalha? Com crianças, com jovens, com adultos?
Carmo: Neste momento preciso, trabalho (tanto quanto o médico me permite) só com jovens. Estou a prepará-los para trabalharem com doentes de uma forma humanizada. Mas geralmente trabalho com crianças (ensino tudo, até a brincar) e com mulheres. Posso mandar-te uma das programações e relatórios, para veres o que ando para aqui a "pregar": higiene, alimentação saudável com o que há, economia doméstica, remédios caseiros... Sou um poço de ciência... Estou a brincar, claro. Mas estudo muito, especialmente tratamentos com plantas.
Raul: Remédios caseiros? À moda antiga? Dê-nos alguns exemplos.
Carmo: Imaginas-me, na Angola ou no Moçambique profundos, a “receitar” antibióticos?… Estou formada em remédios caseiros: dor de ouvidos de crianças: um pouco do leite da mãe, morno, e depois tapar os ouvidos com um lenço. Ou pôr um pouco de óleo levemente morno e proteger igualmente. Dor de barriga? Fazer uma leve massagem com a mão molhada em óleo e depois deitar de barriga para baixo. Muita febre? Tirar o máximo da roupa e dar banho com água à temperatura ambiente? Dor de senhoras? Chá de pau de canela várias vezes ao dia. Tosse? Rodelas de cenoura e/ou cebola, com açúcar, até fazer um xarope. Dar às colheres. Tensão alta? Chá de folhas de abacateiro. Tensão baixa? Chá de semente de abacateiro, raspada. Chega?
Raul: Angola! Um país com futuro?
Carmo: Sem dúvida alguma! Vai ser um grande país. Tem tudo para ser grande, até um povo com uma grande (às vezes grande demais) auto-estima. As potencialidades são imensas. Mas ainda há muita gente que voltou a pensar que Angola é a “árvore das patacas” no pior sentido. É preciso respeito dos que vêm "ajudar", é preciso coragem, coração e algum tempo. Angola vai ser uma grande potência, se a política se escrever com maiúscula.
Raul: Voltando um pouco atrás, aos jovens com quem trabalha, como recebem eles as indicações que lhes dá? É fácil trabalhar com eles?
Carmo: Muito, muito fácil. Eles querem aprender mesmo! Aliás, toda a gente quer aprender. Às vezes "pesco " alguns que vêm beber água a um bebedouro onde eu passo. Alunos de uma escola primária. E fazemos umas boas sabatinas de matemática, verbos portugueses, inglês, o que eles precisarem. É muito bom ouvi-los chamar por mim: “Avó Carmen, estamos aqui!"
Raul: Por falar em escola primária. Que condições têm as escolas em Angola?
Carmo: Bem, um calcanhar de Aquiles de Angola é a Educação. As escolas ainda são poucas, há poucos livros e , particularmente, os professores são uns heróis, mas a sua preparação é deficientíssima. Nem queiras saber! Tenho uma pena doida de não ser mais útil aí. Mas é uma área em que não me devo meter sem ser convidada. A nossa língua comum, na forma escrita e estrutural , precisa de toda a ajuda. Aqui, sim, o governo (permito-me meter onde não sou chamada) deveria investir a fundo.
Raul: Esta nossa conversa só acontece graças às novas tecnologias que estão ao nosso dispor. É fã das novas tecnologias?
Carmo: Sem dúvida nenhuma. Sou muito a favor de aproveitar o que a inteligência do Homem nos dá para facilitar a vida. É claro que sei que, sendo instrumentos criados por homens, podem ser sempre ser bem e mal aproveitados. Mas o nosso dever é usar o que é bom.
Raul: Não a "massacro" mais, por hoje. Só um pedido para finalizar: Dirija uma mensagem aos alunos das nossas escolas em Portugal.
Carmo: Primeiro, não massacras nada. Foi um prazer. Aos nossos jovens, digo: “Meus Queridos Alunos, gostaria que soubessem que, na maior parte das situações da vossa vida, felizmente, vocês são privilegiados. Em África há muitas crianças sem livros, sem casa, sem pão, sem água. Há muitas crianças a quem roubaram o tempo de serem crianças. Há muitas doenças. E tudo isto poderia ser melhorado se também vocês, crianças como eles, os lembrassem junto das vossas famílias. Mas não só aqui. Ao vosso lado, em Portugal, há muitas crianças infelizes, excluídas. Se puderem, ajudem. Sorriam à vida, mas pensem em viver de tal maneira que, à noite, quando se deitarem, vos apeteça dizer:"Ah, que dia bom eu tive hoje! Ajudei alguém!" Experimentem. A Avó Pirueta já tem muita experiência, meus Amores. Que Deus vos abençoe!”


Um muito obrigado imenso à Avó Carmo por esta entrevista. Podia ter feito outras mil perguntas ou interpelado a Carmo sobre outras mil questões. Mas a entrevista que aconteceu foi esta e estou feliz. Tenho o arranque da aula preparado. Espero pelas questões que os meus alunos coloquem à Carmo durante as aulas e depois logo veremos. Para complemento deste poste, amanhã, colocarei aqui uma parte 2 com um pequeno relato autobiográfico da Avó Carmo, de quando ela andava na escola, quando tinha mais ou menos a idade dos alunos com quem vou trabalhar esta entrevista. Só amanhã. Suspense!


Saudações tribais! Carpe diem!