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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NOTAS SOLTAS COM D. HÉLDER CÂMARA!


Nunca mais esquecerei essa figura franzina, de sorriso largo e olhar sereno - vejam a foto que acompanha o texto -, que conheci num encontro de Jovens na Igreja de Cedofeita no Porto, no início da década de 80 do século passado (que estranho!). Pouco mais de um metro e cinquenta, "bonzinho e feiinho como o E.T." ( na altura fazia furor o filme), como ele próprio se definia, encantou a plateia e as três horas que alí passámos parecia que tinham sido apenas uns minutinhos.
Hoje, partilho convosco, neste espaço, três "notas" poema-refleção-partilha-inquietações de um dos seus livros: O Deserto é Fértil:



SE DISCORDAS DE MIM, TU ME ENRIQUECES!

Se és sincero
e buscas a verdade
e tentas encontrá-la como podes,
ganharei
tendo a honestidade
e a modéstia
de completar com o teu
meu pensamento,
de corrigir enganos,
de aprofundar a visão...



LIÇÕES QUE NÃO NOS DEVEM ESCAPAR!

Diante de um colar
- belo como um sonho-
admirei, sobretudo,
o fio que unia as pedras
e se imolava anónimo
para que todas fossem um...


AFINADOR

Admiro e quase invejo
não tanto
teu ouvido privilegiado
que capta
cada nota,
e sente em cada uma
o mais leve desajuste
o menor passo em falso...

Admiro e quase invejo
a fineza com que levas
notas dissonantes
a de novo
se harmonizarem...



D. Hélder Câmara in O DESERTO É FÉRTIL

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

DIA MUNDIAL DA TERCEIRA IDADE!


Ontem, apenas coloquei aqui a primeira parte dum texto de D. Hélder. Hoje, não resisto a colocar o texto completo, que vem mesmo a propósito do dia que hoje celebramos:

Quando assistires
à retirada dos andaimes contempla
- é claro –o edifício que surge.
Mas pede pelos andaimes,
pois é duro servir de suporte à construção,
ser necessário à obra
e na hora da festa
ser retirado como entulho.

Não é o que acontece todos os dias? Ninguém constrói um prédio sem andaimes. E quanto maior é o edifício, mais andaimes. Vem a festa da cumeeira. Mas quando o prédio está acabado, os andaimes sobram. Ninguém pensa mais neles; são retirados como entulho.
Já várias vezes usei a palavra sobrar. Já pensaram como é triste, como é duro sobrar? É um dos verbos mais difíceis de conjugar, é uma das realidades mais tristes de viver...
Aquela senhora era moça, forte, bonita, cheia de vida. Era o centro da casa. Cuidou dos filhos. Criou meninos e meninas que viraram moças e rapazes, e se foram empregando, e foram casando, e foram partindo. Hoje, a dona da casa já idosa, cansada, doente, está sobrando. Os filhos nem se lembram da trabalheira terrível, dos sacrifícios que ela teve com eles.
Aquele senhor era o chefe da família. Vendia saúde. Forte, disposto, trabalhador, sustentava à casa inteira e ainda acudia a velha mãe e uns parentes pobres da esposa. Teve um derrame. Está meio entrevado. Recebe uma micharia do Instituto. Anda nervoso. Dá trabalho. Ninguém se lembra mais do que ele foi como os andaimes, sem os quais a casa não se faz, o edifício não sobe. Está vivendo a hora de os andaimes serem retirados como entulhos. O edifício não precisa deles.
Deixo aqui dois apelos:
- Quem tiver em casa gente sobrando, gente que foi gente, hoje é sombra do que foi, e só dá trabalho, e despesa e preocupação;
- Quem tiver gente sobrando em casa, faça tudo para ter paciência, ser agradecido, não humilhar... lembre-se de que seu dia chegará. O tempo passa mais rápido do que a gente pensa. Não humilhe e não deixe que humilhem ninguém.
E meu apelo a quem pensar que está sobrando: não deixe esse travo entrar na sua vida. Não se encha de amargura. Esqueça o verbo sobrar.
Um dia lhe provarei como da sua sombra e da sua humilhação, você pode ajudar o mundo inteiro...


Dom Helder Câmara –
do livro "Um olhar sobre a cidade"

segunda-feira, 14 de abril de 2008

NOTAS SOLTAS COM D. HÉLDER


Se discordas de mim, tu me enriqueces

Se és sincero
e buscas a verdade
e tentas encontrá-la como podes,
ganharei
tendo a honestidade
e a modéstia
de completar com o teu
meu pensamento,
de corrigir enganos,
de aprofundar a visão...

Lições que não nos devem escapar


Diante de um colar
- belo como um sonho-
admirei, sobretudo,
o fio que unia as pedras
e se imolava anónimo
para que todas fossem um...


Afinador

Admiro e quase invejo
não tanto
teu ouvido privilegiado
que capta
cada nota,
e sente em cada uma
o mais leve desajuste
o menor passo em falso...


Admiro e quase invejo
a fineza com que levas
notas dissonantes
a de novo
se harmonizarem...




D. Hélder Câmara in O DESERTO É FÉRTIL