quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Do AMOR e do CUIDADO!


"AMOR e CUIDADO formam um casal inseparável.
Se houver um divórcio entre eles, ou um ou outro morre de solidão.
O amor e o cuidado constituem uma arte.
Tudo o que cuidamos também amamos.
Tudo o que amamos também cuidamos." (Leonardo Boff)

O “ADOLESCENTÊS” para todos - miúdos e graúdos


Partilho um texto de meu colega Pedro Figueiredo que me ajudou a compreender alguns termos que os adolescentes utilizam nos dias de hoje. Aqui fica:

Sabe o que é «ter “swag” para não ser um “nigga”»1 ? Quer ser 'swagger' ou não passa de um 'swagueta', mas, afinal, é um 'nerd'? E 'bitch' é insulto ou elogio almejado pelas jovens, muitas delas 'betches'? E qual a diferença entre “guna” e “mitra”? – «“Man(o)”, isto é bué de giro! Código 'cool'! 'OMG', 'yolo'! Deixa-me, arranjar o 'cap', 'móh'! 'Moss', 'zimbora'!»
No início de cada ano letivo deparamo-nos com uma nova geração de (pré-) adolescentes e, escutando-os nos intervalos e/ou em contexto de sala de aula, (re)descobrimos que não “falamos a mesma língua” e necessitamos, tal como os pais e a restante comunidade linguística, de dicionário para nos inteirarmos do significado de alguns termos incomuns, mas comuns e na moda entre esta faixa etária.
Ora, o interculturalismo, mais precisamente a “americanização”, mais especificamente a “hollywoodização”, “chegou, viu e venceu” (“ueni, uidi, uici” no dizer de Júlio César após a conquista da Gália). Está cá e aqui está para durar: na comida dita de plástico (“fast food”) e nas grandes empresas internacionais que a comercializam; na indumentária (não apenas os óculos “Ray-Ban”, mas as “t-shirts”, os “boxers”, os “jeans”, os ténis, as “leggings” e, sobretudo, o “cap” - o boné garrido de pala generosa para o lado ou para trás, tal como CR7 ostenta); nos hábitos e gostos cinéfilos; mas também no socioleto, na variedade linguística de um grupo social específico, como é o caso particular da/na gíria dos adolescentes, influenciada, polvilhada, (re)produzida e dominada por termos de origem anglo-saxónica na moda, portanto estrangeirismos ou empréstimos externos – muitos dos quais são ou foram empréstimos internos e acrónimos.
“Mutatis mutandis” (com as mudanças necessárias), ou melhor, considerando o soneto camoniano “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades / (…) Todo o mundo é composto de mudança”2  , o rótulo de “swagger”, “swagueta”, “nerd”, “nigga”, “mitra” ou “guna” foi, em outros tempos – não muito distantes, e com outro(a) corte(sia) –, substituído por “fidalgos, queques e betinhos”, tal como o equacionou, genialmente, Miguel Esteves Cardoso no seu livro de crónicas “Os Meus Problemas”, publicado pela editora Assírio & Alvim em 1998. Aliás, a crónica “Fidalgos, queques e betinhos” é transcrita, com a devida vénia, logo depois do artigo “Ter 'swag' para não ser um 'nigga'” da jornalista portuguesa Marta Martins Silva em que sugere algumas entradas lexicais do 'dicionário adolescentês-português'.
Em síntese, “swag” significa ter atitude, estilo – na sua origem está um acrónimo típico dos estabelecimentos prisionais americanos dos anos sessenta (“Secretly we are gay” = Somos homossexuais em segredo); “nigga” é aquele(a) que pensa que faz mal a todos, mas não vale nada; “swagger” é aquele(a) que tem estilo próprio; “swagueta” é aquele(a) que pensa que tem estilo próprio; “nerd” é o(a) perito(a) em assuntos técnicos ou científicos, muitas vezes com comportamento considerado pouco social; “bitch” não é um insulto como termo inglês do registo informal, antes um acrónimo anglo-saxónico da gíria dos adolescentes (“beautiful, intelligent, talented, charming and hot” = bonita, inteligente, talentosa, encantadora e sensual); “betches” são jovens sofisticadas e requintadas com alguns pré-requisitos; “guna” é um jovem citadino das classes sociais desfavorecidas, residente nos bairros sociais, com comportamento ruidoso, desrespeitador, ameaçador e até violento – um autêntico rufia, “valentão” identificável pelo boné (“cap”) “ligeiramente pousado na cabeça” (com a pala para o lado ou para trás), pelo(s) brinco(s) e pelas calças descidas; distinto do “mitra”, que é um sucedâneo (reles) do “guna”, pois pensa que é mau e usa as meias por cima das calças3   .
Em termos linguísticos e a propósito da gíria dos adolescentes, recorda-se as variedades que uma língua pode ter: as variedades diatópicas, que são as diferenças no espaço geográfico (ou regional) – o português europeu (o da Madeira, de S. Miguel, do Alentejo, do Algarve, do Norte, etc.), o português do Brasil, o de Angola, etc.; as variedades diastráticas ou no espaço social, de acordo com os estratos sociais, visíveis ao nível sociocultural dos falantes, a nível da intimidade com o interlocutor (registo formal ou refletido “vs.” registo informal ou coloquial) e a nível da idade e do sexo dos falantes – os socioletos dos jovens, que englobam a gíria, os dos velhos e o tecnoleto (vocabulário especializado); as variedades diafásicas ou situacionais – a linguagem cuidada, corrente e familiar (num contexto de amigos, diz-se “chato”; na sala de aula, “aborrecido”); e as variedades diacrónicas ou históricas – o (galego-)português arcaico das cantigas de amigo e de amor de D. Dinis “vs.” o português da poesia lírica e/ou épica de Camões ou o de José Saramago.
O facto é que a gíria, associada a um grupo socioprofissional ou a uma faixa etária, como a dos (pré-)adolescentes, serve o propósito da identificação do grupo de pares em termos linguísticos e, concomitantemente, dificulta outros grupos, como os pais, de compreenderem e descodificarem a mensagem, salvaguardando um certo secretismo e/ou privacidade.
É o que acontece, precisamente, com os exemplos de gíria explorados no artigo que se transcreve de seguida:

«Ter 'swag' para não ser um 'nigga'
Os pais precisam de dicionário para os compreender. As modas e as novas palavras dos adolescentes.
A mãe nem sempre percebe o que ela diz e não se trata de nenhum problema na fala. Quando quer dizer meu/minha, Micaela usa a palavra 'madjé', quando vai para algum lado diz 'zimbora' e para se referir a ela própria ou a alguém que tenha estilo e atitude usa a palavra 'swag'. O dicionário alternativo da adolescente de 15 anos, residente na Azambuja, aluna do 8.º ano e uma de quatro irmãs, não é exclusivo da própria.
O ‘vírus' das expressões que escapam aos adultos ataca todos os adolescentes de uma forma geral, em muito impulsionado pelas redes sociais, onde quem quer ser popular "tem de estar para ser visto". A Língua Portuguesa define a adolescência como a "Quadra da vida entre os primeiros assomos da puberdade e o termo do completo desenvolvimento do corpo". Mas não é por saber isso que se torna mais fácil compreender a fase que cada vez começa mais cedo (aos dez, onze anos) e - dizem os especialistas - termina cada vez mais tarde.

REPETE LÁ OUTRA VEZ?
Quando se enerva, Catarina, uma algarvia de 15 anos, diz a palavra 'Móh'. "Usa- se quando ‘'tás' irritada e vem depois do que tu queres dizer, para dar mais sentido. Mas só os que utilizam é que sabem, não dá para explicar" - avisou logo à jornalista, não fosse esta achar que descodificar os adolescentes fosse tarefa fácil. Descobrimo-la no grupo do 'Facebook' ‘Adolescentes mais que perfeitos', onde diariamente são publicadas fotografias de adolescentes com 'swag'. Catarina já enviou fotografias suas para lá. Depois de selecionadas pelos administradores, Daniel e André, pede se aos restantes elementos do grupo (cerca de 11 mil) que as avaliem: 20 ‘Gostos' = Feio; 40 ‘Gostos' = Mais ou menos; 60 ‘Gostos' = Bonito; 80 ‘Gostos' = Lindo e 100 ‘Gostos' = Perfeito.
Há algumas variações na escala, mas é também esta aprovação virtual que embala o ego, aquilo que procuram os jovens que se inscrevem nos grupos ‘Adolescentes mais bonitos' e ‘Adolescentes com 'Swag''. Zé Pedro, de Coimbra, 16 anos, é o administrador deste último grupo. "Eu e dois amigos decidimos criar a página porque a palavra 'swag' evidencia um estilo que todos admiramos ou que gostávamos de ser como as pessoas que o têm, tipo o Justin Bieber, o Drake, o Wiz Khalifa. "Publicamos fotos que nos enviam por mensagem ou que encontramos no 'Facebook' de adolescentes que aparentam ter 'swag' e eles sentem-se bem em ter lá a sua foto, partilham-na com os amigos para aumentar os ‘gostos' ou simplesmente para mostrar aos amigos que se encontram numa página destas", explica. Quase dez mil pessoas pertencem a este grupo na rede social. Zé Pedro, o administrador, tem mais de 22 mil seguidores na sua própria página, onde vai promovendo também outros amigos. "Pedem-me para partilhar o 'Facebook' deles para aumentarem os 'likes' (gostos) nas fotos ou para terem mais pedidos de amizade".
"Quanto mais amigos e mais gostos, mais populares somos", sublinha Catarina, cuja foto de perfil na rede social é em pose, de biquíni, na praia. "Para uma rapariga ter 'swag' ajuda ser bonita e vestir bem, além de saber posar para as fotos, mas para um rapaz convém usar peças específicas de roupa", adianta Micaela. "É preciso vestir as marcas que estão na moda, como os bonés 'New Yankees Cap', camisolas 'Obey', 'Wad', entre outras", enumeram ainda os administradores do grupo ‘Adolescentes mais que perfeitos'.

A ORIGEM DO 'SWAG'
"A palavra 'swag' pode ter dois sentidos: a existência de estilo e a história dos prisioneiros homossexuais na cadeia, mas para nós, adolescentes, o que interessa é a primeira. Se bem que muitos criticam os 'swaggers' por quererem ser mais do que os outros ou simplesmente por terem inveja de eles poderem usar esse tipo de roupas".
Na realidade, aquilo que diz Zé Pedro não anda muito longe da verdade. A palavra 'swag' terá vários significados, sendo que um dos mais conhecidos era como sigla [acrónimo] para a expressão 'Secretly we are gay' (Somos homossexuais em segredo), que terá começado a ser usada na década de sessenta. Ao que parece a palavra começou a popularizar-se no rap americano, através de Jay-Z, o primeiro a utilizá-la neste sentido, em 2001, mas só passou para a internet e para a linguagem adolescente uma década mais tarde. Outra palavra da qual os adolescentes (no caso, as adolescentes) se apropriaram para um novo significado foi a não muito simpática 'bitch' (cabra).
"Fazem com o significado de mostrarem carinho pela outra", explica Catarina. "Não tem o intuito de ser um palavrão, mas sim uma frase típica de jovens, tal como foi em tempos o 'pah' no fim das frases", reforça Alexandre, 17 anos, um dos administradores da página ‘Adolescentes mais bonitos'. Na verdade, 'Bitch' usado como sigla [acrónimo] é o maior elogio que uma amiga pode dar a outra ['Beautiful, Intelligent, Talented, Charming and Hot'] - Bonita, Inteligente, Talentosa, Charmosa e Sexy. O uso, quer da palavra 'swag' quer da palavra 'bitch' não é um exclusivo dos adolescentes portugueses. Lá fora, muda a grafia: é 'betch' e, segundo o 'Urban Dictionary', "faz-te sentir 'cool'".
Nos Estados Unidos, este fenómeno da utilização da palavra 'betch' é protagonizado por jovens entre os 18 e os 24 anos, universitárias e com grande poder de compra. O 'New York Times' fez recentemente um artigo sobre este novo ‘dicionário' e enumerou as regras mais importantes da vida das 'betches': não ser uma miúda fácil, não ser pobre, não ser gorda'. As primeiras a registar o fenómeno foram três 'betches' assumidas: Jordana Abraham, Samantha Fishbein e Allen Kuperman que lançaram o blogue ‘Betches love this', onde escrevem sobre este ‘novo grupo social' de forma satírica. Esta nova ‘tribo' também já inspirou Sofia Coppola no filme ‘The Blind Ring', onde a personagem de Emma Watson é considerada uma 'betch' que rouba fortunas.
Também na 'onda' das palavras com significado diferente para uns e para outros está o 'LOL', que surgiu com o advento da internet: "Antes, escrever ou dizer LOL servia para mostrar a alguém que nos estávamos a rir [a sigla [acrónimo] em inglês significa 'Laughing Out Loud' - Rir muito alto], hoje em dia é mais para 'mandar alguém dar uma volta", contextualiza Sara, de 17 anos e natural de Braga.
"Outra palavra que usamos muito é 'YOLO' ('You only live once' - Só se vive uma vez)". Catarina lembra outra palavra muito utilizada pelos adolescentes de hoje: 'moss', que significa qualquer coisa como: por que razão é que estás sempre a estudar/trabalhar? Tens de relaxar. A palavra social não foi apropriada indevidamente pelos adolescentes, todavia é cada vez mais usada. "Uma pessoa é social se tiver muitos 'likes', amigos e seguidores, e ser adorado por algumas raparigas é a mesma coisa que ser popular. Isso faz com que, no dia seguinte, já sejamos rotulados como o ‘social', mas esta palavra cria muitas rivalidades entre alguns rapazes", acrescenta Zé Pedro, dos ‘Adolescentes mais bonitos'.

A MODA DO REINO UNIDO
André, Tico e Hugo têm 12 anos e vivem na mesma rua. "Ser adolescente é ser diferente do que éramos antes, que só queríamos brinquedos e jogar à bola. Agora também nos preocupamos com a imagem e estamos muito tempo no 'Facebook', porque é importante para pôr fotos, por vezes para arranjar namoradas", explica André. Os três amigos têm dois canais no 'YouTube' , onde fazem vídeos de jogos. "Somos quase 'nerds' nisso", diz Hugo, o mais calado dos três. André não concorda. "Eu acho que tenho 'swag', porque tenho um 'cap', tenho uns ténis assim - aponta para os pés - e também sei falar de forma quase africana, tipo crioulo, que agora está na moda. Na nossa escola, quem tem 'swag' é bem-vindo", explica o adolescente do Barreiro. "Também utilizamos bué o inglês, como o 'OMG' ('Oh my God!' - Oh, meu Deus!) e dizemos 'kkkkk' para mostrar que nos estamos a rir. Ter 'swag' é também usar 't-shirts' com paisagens de sítios paradisíacos como as nossas", sublinha André, apontando para si e para Tico. A dele diz Florida, a do amigo tem escrito Bali. A de Hugo não se enquadra nos padrões. "Os meus pais nem sempre me compram roupa dessa", encolhe os ombros.
"Além disso - das 't-shirts', dos calções, dos bonés e dos ténis - os mais sociais da nossa escola querem todos ir para o Reino Unido, pois o Reino Unido tem 'swag'", lembra André. Micaela confirma. Ainda não há muitos dias a mãe apareceu-lhe em casa com as sonhadas 'leggings' com a bandeira do Reino Unido de padrão. "Eu andava sempre a dizer que tinham 'swag' e a pedir umas e ela fez-me a surpresa. Fiquei mesmo contente porque preocupo-me4  com a minha imagem, com o vestir bem; hoje isso é importante para uma pessoa ser popular na escola". Daniela já tem 18 anos, porém o grupo de amigos ainda usa palavras e expressões que nem todos conseguem descodificar. Além do 'swag' e do 'OMG', é frequente ouvi-los a dizer ‘cheio de cenário' (a ‘pinta' de antigamente), ‘nossa, que biolência' (uma expressão ‘roubada' a Luciana Abreu) e 'stilo'.
Joviana Benedito, professora de Românicas reformada, debruçou-se sobre a linguagem usada pelos mais jovens na internet na altura em que ainda pouco se sabia sobre o assunto e as abreviaturas pareciam uma outra língua a quem não estivesse familiarizado com os 'chats' . Publicou três livros sobre o tema, depois de meses a pôr dúvidas aos mais novos com quem se cruzava nos 'chats'5 . "No início, aquilo parecia-me uma reunião de palavras, juntavam umas coisas com as outras para criar novas palavras e até tinha de estar a adivinhar o que é que aquilo significava. O que achei mais interessante foi a criatividade que gerou, era uma espécie de cantar ao desafio: eu invento uma palavra, tu inventas outra". Hoje, aos 74 anos está retirada da matéria. "Sei que há novas palavras e expressões, porque ouço as minhas netas a falar, mas muita coisa mudou nestes dez anos", justifica.
Já sobre a existência ou não de diferentes tribos adolescentes, os entrevistados divergem. "Há os betinhos (aqueles que não fazem mal a ninguém); os agarrados: que estão sempre com um cigarro na boca e que só veem o vício; os 'swaguetas': pensam que têm estilo próprio, todavia têm um estilo igual aos outros; os 'swaggers': que têm um estilo próprio; os 'niggas': pensam que fazem mal a todos, mas não valem nada", enumera Catarina. Daniela explica de forma diferente: "existe o grupo dos mais populares, que vão a festas e conhecem metade da escola e que têm bastantes amigos no 'Facebook', os grupinhos que vivem das aparências, e os que ficam mais reservados, pois não se deixam arrastar pelas influências dos outros grupos referidos".

OS 'SWAGGERS' INTERNACIONAIS QUE ELES ADMIRAM
1- Justin Bieber: Selena Gomez, namorada do cantor, diz que é impossível passarem despercebidos: "Ele gosta de ser 'cool'. Não esconde o 'swag'. No caso de Bieber, o 'swag' é o estilo, o boné, as marcas que usa, a atitude "de quem sabe o que quer", dizem os fãs. É um dos grandes ícones do 'swag' adolescente.
2- Demi Lovato tem um 'site' na internet que se chama: demilovatohasswag.tumblr.com. "Tem um estilo próprio e fica sempre bem nas fotografias de pose."
3- Rihanna é uma das 'swaggers' preferidas dos adolescentes. "É ousada nas roupas e muito bonita, nada lhe fica mal; a ousadia também ajuda".
4- Drake tem uma música com Wiz Khalifa em que se exalta precisamente ‘Swag So Official'. "Tem roupas mesmo fixes".

DICIONÁRIO ADOLESCENTE-PORTUGUÊS
'Swag': ter estilo, atitude. Para isso implica (para os rapazes) usar roupas das marcas da moda e (para as raparigas) vestir bem, serem bonitas e saberem posar para as fotos que depois postam no 'Facebook'.
'BITCH': 'Beautiful, Intelligent, Talented, Charming and Hot' (Bonita, Inteligente, Talentosa, Charmosa e Sexy).
'YOLO': 'You Only Live Once' (Só se vive uma vez).
'OMG': 'Oh my God'! (Oh, meu Deus!).
'WTF': 'What the Fuck'? (Que m**** é esta?)
'Móh': traduz irritação, no fim de uma frase.
'Moss': relaxar. ‘Para quê estudar se podes estar na boa?'
'Zimbora': vamos embora.
'Madjé': meu/minha.
Social: ser popular, ter muitos amigos e ‘gostos' no 'Facebook'.
'Yah': sim.
'Whatever': tanto faz.
Cheio de cenário: cheio de pinta
Primo/mano: amigo próximo.»
SILVA, Marta Martins. “Ter 'swag' para não ser um 'nigga'
In jornal Correio da Manhã, de 8 de setembro de 2013.
Disponível em <http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/ter-swag-para-nao-ser-um-nigga > [Consultado em 2013-10-21]
(Texto adaptado)

Por outro lado, parece interessante confrontar o artigo anterior com a crónica que se reproduz de seguida, textos afastados temporalmente, mas com uma visão acutilante sobre a realidade social:

«Fidalgos, queques e betinhos
Os Portugueses têm algo de figadal contra todos os que tenham algo de fidalgal. Como as crianças, confundem muito a fidalguia, que é uma simples condição social, com a aristocracia, que é um sistema político em que o poder pertence aos nobres. E, no entanto, como diria Chesterton, não há mérito automático em ser fidalgo, nem vergonha em pertencer decididamente (como eu) à ralé.
Em Portugal, a nossa civilização deve muito a duas classes minoritárias. Ambas são gente simples, com posses reduzidas e educação informal. Refiro-me, obviamente, à plebe e à nobreza. O pretensiosismo dominante, seja proletário ou possidónio6 , seja triunfalista ou disfarçado, encontra-se nas classes restantes, que constituem a grande maioria da população. Mas um pastor ou um pescador é tão senhor como um fidalgo. Como ele, vê o mundo de uma maneira antiga, em que cada coisa tem o seu lugar, o seu sentido e o seu valor. O pior é o operariado, a pequena, média e alta burguesia: enfim, quase toda a gente. É esta gente que se preocupa com a classe a que pertence. Enquanto o pastor e o visconde se ocupam, os outros preocupam-se. Os primeiros não querem ser o que não são. Os outros adorariam. Os primeiros aceitam o que são, sem vaidade. Os outros têm sempre um bocadinho de vergonha e por isso disfarçam, parecendo vaidosos.
Quem é fidalgo e quem é que quer ser?
Em Portugal, existem três classes distintas. Há a classe dos fidalgos – os meninos “bem”. E depois há duas classes falsamente afidalgadas. Há os meninos “queques”, filhos de pais “queques” mas com avós que não. E há os “betinhos”, filhos de pais que, simplesmente, não.
O “menino bem” é aquele que não sabe muito bem em que século começou a fortuna da família. Geralmente é pobre, com a consolação irritante do passado rico. É muito bem- educado e jamais se lembraria de lembrar aos outros que é “bem”. O “queque” sabe perfeitamente que foi o avô ou o bisavô que abriu a fábrica ou a loja que enriqueceu a família. Geralmente é bastante rico. Embora tenha frequentado os colégios corretos, tem sempre um enorme complexo de inferioridade em relação aos “meninos bem”, o que o leva a fazer-se mais do que é. De bom grado trocaria grande parte da sua fortuna pela antiguidade e pelo prestígio de um bom título.
Finalmente, o “betinho” é aquele cujo pai nasceu pobre, indesmentivelmente operário. O betinho procura dar-se, em vão, com queques e meninos bem, mas a sua educação é formal e institucional, não familiar. É o mais rico de todos, mas é também o mais envergonhado. O betinho por excelência é aquele que não suporta a vergonha de um pai nascido entre o povaréu7  . Evita apresentá-lo aos amigos. Tudo faz para ocultar a sua proximidade genealógica ao vulgacho.
Tanto o queque como o betinho são o resultado de “self-made man”, homens que se levantaram pelas próprias mãos, quantas vezes rudes e calejadas e tudo o mais. O menino bem, em contrapartida, nem sequer compreende o conceito de “self-made man”. Porque é que um homem se há de “fazer a si próprio” quando houve sempre pessoal, criados e caseiros, para se ocupar dessas tarefas desagradáveis?
Distinguem-se em tudo. A falar, por exemplo. O menino bem usa todas as formas de tratamento, desde “a menina” – A menina vai levar o Jorge ou vai sozinha no Volvo? – até ao “Psst, tu que fumas”.
O queque, por ser menos seguro, trata toda a gente por “Você”, incluindo os criados e as crianças (o que não é correto, mas parece). O betinho, a esse respeito, está em absoluta autogestão. Tenta tratar mal aqueles que considera inferiores (demasiado mal) e bem aqueles que considera superiores (demasiado bem). No fundo, é um labrego engraxado que julga sinal de aristocracia dizer os erres como se fossem guês.
O que caracteriza o menino bem é o seu total à vontade no mundo. Nunca se enerva, nunca hesita, nunca está muito preocupado. Haja ou não dinheiro. O menino bem dá-se bem com a pobreza e encara o sobe e desce da sorte com a naturalidade com que aceita a circulação do sangue pelas veias. Por isso, dá-se bem com toda a gente. Nada tem a perder ou a ganhar.
Os queques não são assim. Pensam que nasceram para o brilho baço do privilégio. Vivem obcecados pelo dinheiro já que é o dinheiro que lhes permite comprar todos aqueles adereços (relógios Rolex, automóveis Porsche) que consideram indispensáveis ao seu estatuto social. Um menino bem, em contrapartida, nunca usa relógio – porque é que há de querer saber as horas? O queque só se dá com pessoas “do seu meio”. Enquanto o menino bem tem aquele “rapport” feudal com caseiros, varinas e pedreiros, que constitui uma forma multissecular de intimidade, o queque aflige-se em “manter as distâncias” com esse gentião, precisamente por serem tão curtas.
O betinho é uma pilha de nervos. Ninguém o respeita. Dá-se quase exclusivamente com outros betinhos, do mesmo ramo de importação de eletrodomésticos ou da construção civil. Não gostam de sair da sua zona. Os de Lisboa, por exemplo, só quando há uma emergência é que saem do Restelo. Ao contrário dos queques, evitam falar em dinheiro porque se sentem comprometidos. Esforçam-se mais por serem meninos bem do que os queques, que julgam já serem meninos bem. Andam sempre vestidos pelas lojas mais tradicionais (camisa aos quadradinhos, casaquinho de malha, “jeans” novinhos e “mocassins” pretos com correiazinha de prata ou berloques de cabedal), ao passo que os queques compram roupa mais moderna na “boutique” da moda. Escusado será dizer que os autênticos meninos bem andam sempre mal vestidos, com a camisola velha do pai e as calças coçadas do irmão mais velho. A única diferença é que as camisolas e as calças que têm em casa duram cem anos. Os avós já compram camisas a pensar que hão de servir aos netos. Aliás, os fidalgos são sempre mais forretas que a escória.
No que toca aos hábitos alimentares, os meninos bem comem sempre em casa. Como as famílias são geralmente muito grandes (de resto, como sucede com o populacho), a comida é quase sempre do tipo rancho, ou sempre servida com muito puré de batata.
Os queques estão sempre a almoçar e a jantar fora, em grupos grandes com muitos rapazes e raparigas a exclamar: “Ai, já não há pachorra para o 'quiche lorraine'!” Aqui se denunciam as suas verdadeiras origens sociais. Para um menino bem, comer fora é uma espécie de solução de emergência, quando não dá jeito comer em casa. Para um queque é um prazer.
Nas casas bem, a qualquer hora do dia, há sempre uma refeição a ser servida a um número altamente variável de crianças, primos, criadas, motoristas, tias, etc.
Nas casas queques, as refeições variam conforme os convidados. Nas bem, são sempre rigorosamente iguais. Os queques têm a mania dos restaurantes – conhecem-nos tão bem como os meninos bem conhecem (e odeiam) as cozinheiras. E os betinhos? Os betinhos tentam evitar as refeições o mais possível. Comem sozinhos em casa (os betinhos tendem a ser filhos únicos) ou levam betinhas a jantar. Porquê? Porque têm a paranoia de serem “descobertos” através dos modos de estar à mesa. Mas, na verdade, só são descobertos pelo seu excesso de boas maneiras. Um betinho à mesa está sempre “rijo”, atento, receoso de tirar uma azeitona por causa do terror de não saber lidar com o caroço. Os queques comportam-se como animais, espetando garfos nas mãos estendidas dos outros, soprando pela palhinha para fazer bolinhas no 'Sprite' e atirando os caroços para martirizar o 'cocker spaniel'.
Quanto aos meninos bem, encaram as refeições como uma simples necessidade fisiológica. Comem e calam-se. Falam só para dizer “passa a manteiga” ou “Parece que houve uma revolução popular em Lisboa, passa a manteiga”.
Não são, portanto, os fidalgos que dão mau nome à fidalguia – são os queques e betinhos. Estes cultivam ridiculamente os “brasões” e as “quintas”, fingindo que não gostam de falar nisso. Em contrapartida, nas casas fidalgas, os filhos das criadas experimentam os lápis de cera nos retratos a óleo dos antepassados. E ninguém liga…»

CARDOSO, Miguel Esteves. “Fidalgos, queques e betinhos”
In “Os Meus Problemas” [em linha]. Disponível em
< http://dirigivel.blogspot.pt/2011/02/miguel-esteves-cardoso-fidalgos-queques.html  >
[Consultado em 2013-10-22]
(Texto adaptado e grafado segundo o AO 90)

Pedro Figueiredo
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 1 Título do artigo transcrito no sítio do “Ciberdúvidas da Língua Portuguesa” [em linha]. Disponível em < http://www.ciberduvidas.com/idioma.php?rid=2794> [Consultado em 2013-09-09]. Originalmente, foi publicado no jornal “Correio da Manhã”, de 8 de setembro de 2013, [em linha], da autoria da jornalista portuguesa Marta Martins Silva. Disponível em
<http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/outros/domingo/ter-swag-para-nao-ser-um-nigga
> [Consultado em 2013-10-21].
2 Cf. a interpretação musical do poema por José Mário Branco [em linha]. Disponível em < http://www.youtube.com/watch?v=Xc_fMCp36mI > [Consultado em 2013-10-22].
3  Cf. os vídeos “A gunada”, de Alexandre Santos, que parodiam o estereótipo e a(s) conduta(s) dos “gunas” no “Youtube” [em linha].
4  Do ponto de vista normativo, a Micaela deveria ter feito a próclise (pronome pessoal átono em posição pré- nominal), exigida pela conjunção subordinativa causal 'porque' (proclisador do discurso), e não a ênclise (posição pós- verbal do pronome pessoal átono). Deste modo, deveria ter sido «”porque me preocupo”».
5 Anglicismo que, no contexto, designa salas de conversação, ou de “bate-papo” no português do Brasil.
6 proletário – relativo á classe dos trabalhadores; possidónio – emproado, convencido.

7 povoréu – classe social mais baixa, ralé.