sexta-feira, 9 de maio de 2008

QUE O SAPATEIRO NÃO VÁ ALÉM DO CHINELO!...

Ler um texto,
mergulhar no seu interior,
abandonar a fachada,
o valor facial e procurar o sentido profundo das coisas,
o porquê...

CCZ


Em "poste" anterior fiz referência a um artigo de Bruno Bobone via balanced scorecard. Não fiz uma leitura correcta do alcance do artigo e só uma segunda leitura muito mais atenta deste texto que referi e do poste do Carlos, me ajudaram a compreender o comentário que ele me deixou:

"Caro Raul, este tipo de pensamento, leva-nos ao totalitarismo como tão bem explica Popper no leu livro "Em busca de um mundo melhor".

Hoje, no seu blogue, e para que eu percebesse o seu comentário e me ajudasse a ficar mais esclarecido, o meu bom amigo Carlos fez este "poste" que eu, desde já, agradeço:

Um dos meus livros preferidos (caro Raul) é da autoria de Karl Popper e chama-se “Em busca de um mundo melhor”.

Lembrei-me desse livro, por causa do artigo do Jornal de Negócios que referi neste postal “A tentação (nacional)-socialista”.

O décimo-quinto capítulo intitula-se “Em que acredita o Ocidente?”, seguem-se alguns trechos:

“Em que acredita o Ocidente?”

“Se nos interrogarmos com seriedade sobre aquilo em que acreditamos e procurarmos responder com honestidade, a maioria de nós terá de admitir que não sabe exactamente em que deve acreditar. A maioria de nós passou pela experiência de ter acreditado nuns ou outros falsos profetas, e por influência desses profetas, nuns ou noutros falsos deuses. Todos nós vimos as nossas crenças abaladas, e aqueles poucos cuja fé atravessou incólume todas as perturbações, terão de admitir que não é fácil, hoje, saber em que acreditamos no Ocidente.Esta minha observação de que não é fácil saber em que acredita o Ocidente talvez soe demasiado negativamente. Conheço muito boa gente que considera uma fraqueza do Ocidente não termos nenhuma ideia-mestra, comum, nenhuma crença única que possamos contrapor, orgulhosamente, à religião comunista de leste (este texto é retirado de uma conferência proferida em 1958 em Zurique).

Esta opinião generalizada é absolutamente compreensível. Mas considero-a estruturalmente falsa. Deveríamos orgulhar-nos sim por não termos uma ideia, mas muitas ideias, boas e más; por não termos uma crença, uma religião, mas várias, boas e más. É um símbolo da vitalidade superior do Ocidente o facto de podermos permitir-nos isto. A unificação do Ocidente assente numa ideia, numa crença, numa religião representaria o fim do Ocidente, a nossa capitulação, a nossa submissão incondicional a uma ideia totalitária.…

É sobretudo a ideia de uma ideia única, a crença numa crença única e exclusiva. Uma vez que me defini como um racionalista, é meu dever chamar a atenção para o facto de o terror do racionalismo, da religião da razão, ser, se possível, mais grave ainda do que o fanatismo cristão, maometano ou judeu. Uma ordem social puramente racionalista é tão inviável quanto uma ordem social puramente cristã, e a tentativa de realizar o impossível conduz, neste caso, a monstruosidades pelo menos tão graves. O melhor que se pode dizer do terror de Robespierre é que foi relativamente efémero.Esses entusiastas bem intencionados que sentem o desejo e a necessidade de unificar o Ocidente sob a liderança de uma ideia inspiradora, não sabem o que fazem. Ignoram que estão a brincar com o fogo – que é a ideia totalitária que os atrai.Não, não é da unicidade de ideias, mas da sua multiplicidade, do pluralismo, que nos devemos orgulhar, no Ocidente. E à pergunta “Em que acredita o Ocidente?” podemos dar agora uma primeira resposta, provisória. É que podemos afirmar orgulhosamente que no Ocidente acreditamos em muitas e diversas coisas, em muitas coisas verdadeiras e em muitas coisas falsas. Em coisas boas e em coisas más.

2 comentários:

Anónimo disse...

Raul do Sorriso Imenso, não posso comentar, pois não? Mas posso ter orgulho, não posso? E tenho. E em ti também. Beijo da Carmo

Raul Martins disse...

E eu orgulho em si, e no Carlos.

Um sorriso do tamanho da nossa amizade que vai crescendo.