sexta-feira, 27 de junho de 2008

TEMPO DE VÉSPERAS!

Há textos que nos arrebatam e nos elevam; que nos fazem meditar e mexem com as nossas entranhas. Ontem, o meu bom amigo e colega André Sousa deu-me um desses textos. Belíssimo e profundo, do Médico e Professor Daniel Serrão. Sendo muito extenso, apenas vos deixo aqui pequeníssimos excertos do mesmo e convido-vos (se não for hoje que seja numa outra ocasião com mais tempo) a lê-lo na íntegra aqui (clicar). Aqui ficam os pedacinhos do texto:

Diga-me,
quanto tempo me falta
para morrer?

Era um fim de tarde calmo, de Setembro, e eu estava naquele quarto, modesto, de casa de pescadores do Mindelo, olhando bem nos olhos aquela jovem e recebendo, em cheio, toda a força da pergunta:
diga-me, quanto tempo me falta para morrer?
...
Não esperava esta pergunta, nem a serenidade com que foi feita. Apanhado de surpresa respondi assim:


- “Falta o tempo que tens para viver”.


E comecei a falar com palavras que me apareciam, vindas não sei de onde. E disse-lhe: “ a todos nós e não apenas a ti Maria C., o tempo que nos falta para morrer é o tempo que temos para nele viver, sem desperdiçar um segundo que seja. Não são as horas dos relógios mecânicos, nem é a sucessão dos dias e das noites, porque este planeta roda à volta da estrela que o ilumina, que fazem o nosso tempo, só o contam.
....
Este tempo vivido não tem que ver com o tempo dos relógios que tu, Maria C., querias que eu quantificasse para ti quando perguntaste – “diga-me, quanto tempo me falta para morrer?”
Desse tempo de relógios e da sucessão dos dias e das noites, quanto te falta, não sei. Mas sei que te falta, como a todos nós, usar o tempo de viver que é a criação nossa e tem, por isso, uma dimensão infinita.
Enquanto, na tua auto-consciência, te vês a dançar o Cisne vives o teu tempo da dança que não é o tempo físico da partitura. O Cisne desliza, eleva-se, rodopia e tomba, no tempo da memória visual que não é síncrono com o da representação real, em palco. O tempo vivido, como temporalidade, expande o tempo físico e amplia o espaço real dos acontecimentos percepcionados e memorizados. O palco em que danças Maria C. é um espaço imenso e o tempo que vives, dançando sobre ele, é quase infinito.
Mas nem só de dança viverá o teu tempo de viver.
Como ser vivo tens um lugar e um tempo no mundo natural. E o mundo natural é muito belo, muito rico e muito presente à nossa volta.
...
Lembras-te Maria C., de quantas vezes olhaste “para o calor dos campos com a cara toda” (Pessoa) e te sentiste feliz, sem nenhum outro motivo para estares feliz além deste que era o de estares imersa na natureza como simples coisa natural?
Lembras, que eu sei. Pois lembra-te e vive, com intensidade, esses momentos mágicos de comunhão com o mundo real natural, em que o corpo não pesará e o espírito tomará conta de toda a tua auto-consciência enchendo-a de bem-estar de paz.

...
DANIEL SERRÃO
In Cadernos de Bioética 42
Dezembro de 2006

Na íntegra, aqui.

10 comentários:

Avó Pirueta disse...

Raul, é melhor não dizer nada. Basta saberes que nem quero falar porque não quero macular a mensagem do texto. Obrigada. Um beijo da Avó Pirueta

BC disse...

Muito belos estes excertos, como a avó diz e muito bem, há coisas que não se comentam,servem para meditar,reflectir.
Quando tiver mais um bocadinho irei ler o resto, eu gosto de ler e reler as coisas que me afectam (no bom sentido da palavra), as coisas que mexem comigo.
E VIVAMOS OS INSTANTES, OS MOMENTOS!!!

BC disse...

Nas minhas pesquisas,descobri uma certa caixinha de cartão cor-de-rosa, feita por uma menina chamada Pipoca.
PARABÉNS
UMA BEIJOCA PARA TI da Isabel

Anónimo disse...

Gostei muito do texto e, fazendo minhas as palavras da mcc e bc, também não comento!!! vou reler e saborear melhor as mensagens que nos transmite...obg André e Raul

O Profeta disse...

Hoje o Mar adormeceu na Aurora
O dia desponta em doce calmaria
Um barco cede ao embalo do vento
Uma gaivota na escarpa o ninho vigia

Hoje o Sol pintou de luz o verde
As hortênsias são nuvens na terra
Plantadas por um deus romântico
No sortilégio que esta ilha encerra


Bom fim de semana


Abraço

Anabela Magalhães disse...

Comunguei respeitosa e emocionada perante a verdade contida neste texto.
Excelente post, Raul.

Anónimo disse...

Li o texto. Nao quero comentar a morte, mas o nascimento.

A Picocas / Catarina faz hoje anos?
Muitos parabéns para ela, e também para os pais por esse presente vindo do céu.

E amanha faz anos a minha picocas / Lulu.

Mil abracos para a família Martins.

Anónimo disse...

MIRABILE DICTU
um abrace munte amigue dagente,

Raul Martins disse...

Bem vos compreendo,
verba non debent esse superflua
quando o que se escreveu, como diz o nosso compadre Besberto, é MIRA DICTU.
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Não Teresa, a minha "Pipoca" não faz anos. A Isabel terá querido dar os "parabéns" por um trabalho do dia da mãe que colocamos aqui nessa altura.
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Obrigado profeta pela partilha do poema. Não sei se leste o texto todo, presumo que sim pelo poema que aqui deixas, se não, és mesmo um "profeta"!
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Aparece sempre Conceição. Segunda-feira tenho aqui uma surpresa para ti. Espero que não leves a mal.
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Carpe diem!
E façamos como diz a Isabel: VIVAMOS OS INSTANTES, OS MOMENTOS!!!

Raul Martins disse...

MIRABILE DICTU, claro!