Era um fim de tarde calmo, de Setembro, e eu estava naquele quarto, modesto, de casa de pescadores do Mindelo, olhando bem nos olhos aquela jovem e recebendo, em cheio, toda a força da pergunta:
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Não esperava esta pergunta, nem a serenidade com que foi feita. Apanhado de surpresa respondi assim:
- “Falta o tempo que tens para viver”.
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Este tempo vivido não tem que ver com o tempo dos relógios que tu, Maria C., querias que eu quantificasse para ti quando perguntaste – “diga-me, quanto tempo me falta para morrer?”
Desse tempo de relógios e da sucessão dos dias e das noites, quanto te falta, não sei. Mas sei que te falta, como a todos nós, usar o tempo de viver que é a criação nossa e tem, por isso, uma dimensão infinita.
Enquanto, na tua auto-consciência, te vês a dançar o Cisne vives o teu tempo da dança que não é o tempo físico da partitura. O Cisne desliza, eleva-se, rodopia e tomba, no tempo da memória visual que não é síncrono com o da representação real, em palco. O tempo vivido, como temporalidade, expande o tempo físico e amplia o espaço real dos acontecimentos percepcionados e memorizados. O palco em que danças Maria C. é um espaço imenso e o tempo que vives, dançando sobre ele, é quase infinito.
Mas nem só de dança viverá o teu tempo de viver.
Como ser vivo tens um lugar e um tempo no mundo natural. E o mundo natural é muito belo, muito rico e muito presente à nossa volta.
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Lembras-te Maria C., de quantas vezes olhaste “para o calor dos campos com a cara toda” (Pessoa) e te sentiste feliz, sem nenhum outro motivo para estares feliz além deste que era o de estares imersa na natureza como simples coisa natural?
Lembras, que eu sei. Pois lembra-te e vive, com intensidade, esses momentos mágicos de comunhão com o mundo real natural, em que o corpo não pesará e o espírito tomará conta de toda a tua auto-consciência enchendo-a de bem-estar de paz.
Na íntegra, aqui.
10 comentários:
Raul, é melhor não dizer nada. Basta saberes que nem quero falar porque não quero macular a mensagem do texto. Obrigada. Um beijo da Avó Pirueta
Muito belos estes excertos, como a avó diz e muito bem, há coisas que não se comentam,servem para meditar,reflectir.
Quando tiver mais um bocadinho irei ler o resto, eu gosto de ler e reler as coisas que me afectam (no bom sentido da palavra), as coisas que mexem comigo.
E VIVAMOS OS INSTANTES, OS MOMENTOS!!!
Nas minhas pesquisas,descobri uma certa caixinha de cartão cor-de-rosa, feita por uma menina chamada Pipoca.
PARABÉNS
UMA BEIJOCA PARA TI da Isabel
Gostei muito do texto e, fazendo minhas as palavras da mcc e bc, também não comento!!! vou reler e saborear melhor as mensagens que nos transmite...obg André e Raul
Hoje o Mar adormeceu na Aurora
O dia desponta em doce calmaria
Um barco cede ao embalo do vento
Uma gaivota na escarpa o ninho vigia
Hoje o Sol pintou de luz o verde
As hortênsias são nuvens na terra
Plantadas por um deus romântico
No sortilégio que esta ilha encerra
Bom fim de semana
Abraço
Comunguei respeitosa e emocionada perante a verdade contida neste texto.
Excelente post, Raul.
Li o texto. Nao quero comentar a morte, mas o nascimento.
A Picocas / Catarina faz hoje anos?
Muitos parabéns para ela, e também para os pais por esse presente vindo do céu.
E amanha faz anos a minha picocas / Lulu.
Mil abracos para a família Martins.
MIRABILE DICTU
um abrace munte amigue dagente,
Bem vos compreendo,
verba non debent esse superflua
quando o que se escreveu, como diz o nosso compadre Besberto, é MIRA DICTU.
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Não Teresa, a minha "Pipoca" não faz anos. A Isabel terá querido dar os "parabéns" por um trabalho do dia da mãe que colocamos aqui nessa altura.
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Obrigado profeta pela partilha do poema. Não sei se leste o texto todo, presumo que sim pelo poema que aqui deixas, se não, és mesmo um "profeta"!
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Aparece sempre Conceição. Segunda-feira tenho aqui uma surpresa para ti. Espero que não leves a mal.
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Carpe diem!
E façamos como diz a Isabel: VIVAMOS OS INSTANTES, OS MOMENTOS!!!
MIRABILE DICTU, claro!
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