Foi durante os últimos anos terríveis da guerra, provavelmente em 1917, numa altura em que sofri de uma longa doença, que percebi muito claramente aquilo que há um tempo considerável havia pressentido: que nas nossas famosas escolas secundárias austríacas... estávamos a perder o nosso tempo de maneira chocante, embora os nossos professores fossem muito cultos e se esforçassem muito por fazer das escolas, as melhores escolas do mundo. Que muito do seu ensino era extremamente entediante – horas e horas de desesperada tortura – era novidade para mim. (Vacinou-me: depois disso nunca mais sofri de tédio. Na escola, um aluno estava sujeito a ser apanhado em falta se pensasse em alguma coisa não relacionada com a lição: o aluno podia entreter-se com os seus próprios pensamentos.) Havia apenas uma disciplina em que tínhamos um professor interessante e verdadeiramente inspirador. A disciplina era matemática... Porém, quando regressei à escola depois de uma doença de mais de dois meses, descobri que a minha classe não tinha feito quase nenhum progresso, nem mesmo a matemática. Isto abriu-me os olhos e pôs-me ansioso por deixar a escola. (pp. 51-52).
...
Quando pensava no futuro, sonhava em fundar, um dia, uma escola em que os jovens pudessem aprender sem tédio e fossem estimulados a pôr problemas e discuti-los; uma escola em que não tivessem de ser ouvidas respostas indesejadas a perguntas não formuladas; em que uma pessoa não estudasse só para passar nos exames. (pp.62-63).
ADENDA: Sugestão da Isabel (Sletras) depois de ver este poste:
14 comentários:
Hoje ainda ando por aqui.
Nunca li Popper mas vou comentar, pois fez-me lembrar algo, que ficou distante no tempo e tive saudades.
Popper disse:Quando pensava no
futuro, sonhava em fundar, um dia,
uma escola em que os jovens podessem aprender sem tédio e fossem estimulados a põr os problemas e discuti-los.
Uma escola em que não tivessem de ser ouvidas respostas indesejadas a perguntas não formuladas. Em que uma pessoa não estudasse só para passar nos exames...
E LEMBREI-ME DO MEU SORRISO, E COMO UMA COISA QUE PARECE COMPLEXA SE PODE TORNAR TÃO SIMPLES E TÃO PERCEPTÍVEL
Naquela escola havia tudo, livros,
muitos livros, lápis, canetas, papel para escrever e para desenhar,
não precisavam de coisas muito sofisticadas para perceberem o quanto era importante o SABER, proporcionavam a todos os sorrisos
que por ali passavam,o SABER,com a sua experiência.
Tudo funcionava bem, todos perceberam que na "Cidade dos Afectos", ninguém vivia só,as pessoas partilhavam tudo e respeitavam-se mutuamente.
Acima de tudo davam as mãos e sorriam.
E ISTO FEZ-ME LEMBRAR OUTRA COISA
Até amanhã
Carpe Diem Raul
A bc também tem insonia como eu.
Acabo de ler o livro de Karl Popper, que o ccz nos indicou.
Estou demasiado cansada para fazer grandes comentários. Só cito uma frase dele, que gosto muito:
"É preciso duvidar de tudo, até das dúvidas."
Boa noite, Raúl!
Gosto do Popper, mas Teresa, permita-me discordar parcialmente de si e da frase que cita. Não me parece muito sensato começarmos a duvidar de tudo e de todos. Esta insegurança deixa-nos mal connosco próprios e com os outros. A desconfiança destrói pessoas e relações. É uma praga.
Se estivermos a falar noutro âmbito, nomeadamente em contextos científicos, de investigação, aí as dúvidas, as interpelações... são o motor... sem elas o mundo não pula, nem avança como diria Gedeão.
:)
Pois para mim, Karl Popper enche-me as medidas é quando diz que na vida nos devemos apaixonar perdidamente por um Problema... E só o deixarmos se encontrarmos um outr Problema ainda mais fascinante...
Vou meter uma cunha ao Ccz para transcrever a citação porque aqui estou desprovida desses materiais. Raul, tu és sempre um motor, que puxa, puxa e nos leva a avançar. Também Gosto de Peter Drücker e especialmente do que ele profetizou sobre a Escola.
Para todos, um Beijinho da Carmo. Operacionalíssima. Dei agora duas horas de formação!
Avó, não há texto novo?
Daqui os meus sorrisos,está a andar já foi à formação, que bom,
já a estou a ver no mar outra vez.
Beijinhos
Concordo com a Mª do Carmo....
jnhs
Concordo inteiramente com Popper. A escola não pode ser tédio. A escola também não pode ser só transmissão de saberes que se faz num só sentido. A escola tem de ser partilha. Vai daí a escola também não pode ser reduzida a preparação para exames.
A este propósito o Ramiro Marques lançou uma questão interessante.
Exames...
Sim? Ou não?
Hoje nao venho aqui falar sobre Sir Karl Raimund Popper.
Émy, por favor, vá ao meu blogue ler o que escrevi sobre o Barak Obama. Agradeco-lhe muito o seu comentário.
Saudacoes de Düsseldorf!
Popper convida-nos a duvidar de tudo por uma razão.
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Popper acredita que existe a Verdade com vê grande. No entanto, nós, humanos, não temos mecanismos, não temos meios para saber se estamos na posse da Verdade ou de algo que nos parece ser a verdade. Por isso, temos de duvidar, por uma questão de humildade.
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Por exemplo no mundo da ciência, vamo-nos aproximando da Verdade, mas nunca saberemos quando é que a atingiremos, se é que a vamos atingir.
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Popper quando falava em duvidar falava sobre o conhecimento, não sobre as relações entre as pessoas ou outro tema.
Caro Raul,
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A verdade é que há muitos anos que admiro a sociedade do império austro-hungaro com a capital em Viena, da primeira quinzena do século XX. É impressionante, para mim, começar a contar o número de cérebros que esse cadinho cultural produziu: Popper; Drucker; Freud; ...
Caro Carlos,
é verdade o impressionante mundo cultural que refere, evidente no livro de Popper que estou a ler. Não há dúvida que o facto de ter nascido e vivido num ambiente familiar, social e académico atraente o ajudou bastante. Estou a gostar, mas há partes que eu apenas passo à frente porque a minha bagagem cultural e filosófica não consegue retirar o sumo desejável. Mas o que é certo é que fico a "remoer" no que leio e vou interiorizando e volto atrás.
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Ansioso por ler "Em Busca de um mundo melhor". Acredito que seja mais acessível. Veremos. É bom para sair do marasmo.
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Saudações tribais!
ccz.,esqueceu-se do LUDWIG WITTGENSTEIN!
Bem, vim aqui para responder à émy.
Li o seu comentário no blogue da Fátima, que corresponde ao que eu penso sobre o assunto. Leu também o que eu escrevi sobre isso?
Quanto ao Darwin. Ainda nao recebeu a minha resposta sobre este assunto, porque fiquei confusa.
Há um círculo de ateístas nos Estados Unidos, que usam e abusam do nome de Darwin para esclarecer e confirmar esse ateísmo. E foi com esse espírito que escrevi o comentário de entao.
Por outro lado, a émy argumentou tao bem - o seu forte é escrever -
que fiquei indecisa.
Ainda ontem à noite estive a ler uns artigos desse grupo de ateístas americanos, mas já nao estou tao convencida.
A propósito, eles também estao a ficar desiludidos com o Obama. Mas entre ele e o John Mc Cain, acham o Obama é o mal mais pequeno.
Gostava tanto de por esta pergunta no meu blogue ... será que alguém responderá?
Um abraco amigo para si, émi.
Raul,
Quando começar a ler o livro era capaz de ser interessante debatermos na blogosfera as principais ideias que cada um retirou de cada capítulo. Que acha?
Caro Carlos,
Aceito o desafio. Penso que pode ser interessante. Se conseguirmos outros contributos, melhor.
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Carpe diem!
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