sábado, 24 de maio de 2008

MEDITAÇÕES SOBRE A CRIAÇÃO!

Poderão a ciência e a bíblia dialogar sobre o "surgir" do Homem e do Mundo?
Razão e Fé poderão ser "olhos" de um único "olhar"?

Em jeito de meditação:

E NO PRICÍPIO ERA A COMUNICAÇÃO!

Desde o princípio, esta argamassa da vida da qual viemos e somos, e na qual fomos e somos agraciados pelo bom Deus que tudo apreciou da varanda da sua eternidade e viu que tudo era bom e muito bom; desde o princípio, dizíamos, somos chamados à comunicação numa história que nos há-de levar à comunhão: “É que, um dia, nós, em vez de comunicar, vamos comungar.” Assim o queiramos nós porque esse é o projecto que Deus tem para nós, para cada um de nós.

E no princípio era o Verbo, a palavra, a comunicação!
E o Verbo estava junto de Deus
e o Verbo era Deus.
Jo 1,1-2

Há muitos mil milhões de anos atrás, cerca de 15 mil, deu-se uma grande explosão, o Big Bang. Poucos segundos após formaram-se as partículas subatómicas que, comunicando-se entre si, produziram os primeiros elementos: o hidrogénio e o hélio.

O Universo expandiu-se e arrefeceu, a energia espalhou-se e a matéria prevaleceu. Tinham passado trezentos mil anos.
E fez-se a Luz!E Deus viu que isso era bom!
E o tempo passando e passando, milhões e milhões de anos!
Formaram-se as galáxias e as estrelas.

E narram os céus a glória de Deus
E o firmamento anuncia a obra de suas mãos.
O dia ao outro transmite essa mensagem
E uma noite à outra a repete
. Sl 18, 2-3

E Deus foi constatando que tudo isso era bom!
E o tempo passando e passando. Milhões e milhões de anos!

Num planeta vizinho de uma estrela, as condições foram ideais para que a água pudesse ser gelo, líquido e gás. E nesse planeta os glaciares expandiram-se, e os glaciares derreteram-se; os rios inundaram-se, e os rios secaram; os oceanos foram e vieram, nuvens e nevoeiro chegaram e dissiparam-se. Nesse planeta a água era livre. E para agradecer a esse planeta que se chama terra e a essa estrela que se chama sol, a água foi argamassa da vida. Nasceram da água os primeiros seres unicelulares e depois pluricelulares.

E Deus viu que tudo isso era bom!
E o tempo passando e passando. Milhões e milhões de anos!Daquela argamassa da vida surgiram os seres vivos. Plantas e animais. No mar, no céu e na terra. De mil e uma espécies.
E Deus viu que tudo isso era bom!

E o tempo passando e passando. Milhões e milhões de anos!E dessa argamassa da vida nasceu, um dia, há 2,5 milhões de anos, nesse planeta, o género Homo.
E Deus viu que isso era bom!

E o bom Deus viu que estava ali o seu partener, o seu tu.
“E disse Deus:
façamos (na´aseh) a humanidade (´adam) à nossa imagem (tselem),
como que à nossa semelhança (demût),
e que ele domine (radah) sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu
e sobre os animais domésticos
e sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam sobre a terra.”
Gn 1,26

E num beijo de Deus, nasceu o homem à sua imagem e semelhança. Deus concedeu ao homem a possibilidade de existir com a finalidade de comunicar-lhe a vida que só Deus possui. Comunicar a vida num diálogo de liberdade. E o homem sentiu-se encontrado pelo Deus Outro e abriu os braços e agradeceu o dom da vida. A vida como uma dádiva! E o homem cantou:

Graças Te dou, meu Senhor,
Pelo admirável dom da minha existência!
Sl 138,14

Ó Senhor, quão variadas são as vossas obras!
Feitas, todas, com sabedoria.
A terra está cheia das coisas que criastes
. Sl 103, 24

E viu Deus tudo o que tinha feito
e eis que era demasiado bom (tôb me`od).
Gn 1,31

E começa uma história longa, de liberdade humana, de adesão ou negação livre do homem. Nessa história Deus mesmo se inseriu. Ele quer a vocação transcendental e escatológica do homem, que é ainda um longo e doloroso caminho, talvez de outros milhões e milhões de anos. Mas que a comunicação, tal como desde o princípio, nunca deixará de ser o elo de ligação de toda a história.

E passaram alguns milhares de anos e o bom Deus enviou o seu filho para relembrar ao homem a marca indelével do que é ser à imagem e semelhança de Deus.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós,
e vimos a sua glória
a glória que um Filho único recebe do seu pai,
cheio de graça e de verdade
. Jo, 1,14

E Deus, comunica-se, diz-se de si próprio plenamente em Jesus. Elevou a fasquia mas também a garantia da redenção, assim o homem responda positivamente ao seu projecto.
Deus criou o Mundo o menos possível para criar o homem o mais criador possível. “A pessoa vai-se fazendo ao executar acções; reciprocamente as acções se executam porque a vida se plasma nelas”.
No princípio era a comunicação, no fim será a comunhão. E nessa altura nascerá o homem plenamente HOMEM. E Deus dirá que tudo isso foi bom, muito bom, muitíssimo bom.

9 comentários:

Anónimo disse...

Sabes, Raul do Sorriso Imenso, se tu e o ccz fizessem as homilias dominicais, em certas igrejas, tenho a certeza de íntima de que os templos se encheriam de domingo para domingo. E ainda haveria alguém, um domingo, que inesperdamente poria a mão no ar a pedir a palavra e a perguntar:" O senhor não pode passar por aqui uma noite destas para continuarmos a reflectir sobre a relação Homem-Deus-Mundo-etc.?"
Ainda tenho esperança de que o monólogo das homilias se transforme em diálogo um dia. Em Moçambique, faço muitas a Celebração da Palavra. Os padres que eu tento substitui nesses dias sabem, e aprovam, que eu faça a Celebração em diálogo. Total. Porque não deve ser durante as fórmulas fixas.
Será que o que escrevi te diz alguma coisa? Comentei o teu texto tão esclarecedor, que torna o Verbo tão próximo? Um beijo da Mãe Bom dia. Para todos aí de casa. Porque o teu ninho já está debaixo da minha asa.

Raul Martins disse...

Eu e o seu Ccz estamos nos "púlpitos" onde temos que estar. É aí que temos que cumprir a nossa missão. Mais entranhados comos palcos da vida!
O texto foi a pensar um pouco na Teresa de D'orf. É apenas um ponto de partida.
Ainda hoje a minha Émy, no seu jeito de questionar, me interpelou de mil e uma maneiras, pois ela não é fácil de convencer, de algumas coisas que escrevi.
E o texto tem alguma inspiração do nosso ciêntista maior Carvalho Rodrigues, que é um pouco ao estilio do Ccz, e que fala e escreve de uma forma fantástica e não tem pudor algum em colocar Deus ao "barulho". Apesar de embrenhado na ciência é um homem de fé. Profetas do nosso tempo.
Bem Carmo, ficámos felizes por estarmos debaixo da sua asa, à sombra do seu embondeiro e ao sabor das suas orações.
Um sorriso grande de todos os cá de casa.

Anónimo disse...

Cara Émy:
Vou tentar responder às suas perguntas, e desde já prometer nunca mais me meter ao "barulho".

* Talvez use palavras que nao estejam bem empregues, mas como eu já aqui disse, a razao principal de eu andar na blogosfera é precisamente para estar em contacto com a nossa língua.

* O que é para mim uma "pessoa religiosa"? É uma pessoa que cumpre os precitos da religiao.
Acho que se pode acreditar em Deus sem se ser demasiado religioso.
E a religiosidade é a qualidade do que é religioso.


* Cristao é aquele que segue a religiao de Cristo, nao interessa ser católico ou luterano, como a minha melhor amiga alema, com quem hoje passei horas seguidas a falar sobre este assunto. Ela disse-me noutras palavras a mesma coisa que o Raúl fala aqui neste texto.

* PARA MIM SER CRISTAO NAO É SINAL DE OBSCURANTISMO E IGNORANCIA!!!
A sua impressao é completamente errada.

* O resto do seu depoimento é esplendido, e faco minhas as suas palavras.

* Eu cá tenho dificuldades de que a razao e a fé sejam "olhos" de um único "olhar". Mas isso é cá o meu problema. Penso que Darwin ao escrever "A Origem das Espécies" pos Deus de lado.

* Termino esta discussao amigável com as palavras da nossa querida Carmo Cruz:
QUANTO A DARWIN, A MINHA TEORIA É ESTA: A DARWIN O QUE É DE DARWIN, A DEUS O QUE É DE DEUS, E NO FIM, VAI TUDO TER AO MESMO: DEUS, PRINCÍPIO E FIM DE TUDO.

Raul Martins disse...

Teresa, eu não sei se deva meter aqui a minha "colherada" entre si e a Émy, mas... só para dizer o seguinte, não deixe de meter-se ao "barulho" porque é assim que se "faz luz" e a beleza na blogosfera está no debate de ideias e não em dizermos simplesmente "amén". A Èmy também me dá cabo do juízo cá em casa. Ainda hoje estivemos mais de uma hora a debater o texto que aqui coloquei hoje. E temos que fazer juz às palavras do CCz sobre a orquestra e que por sinal a Teresa também colocou no seu bloque e que eu acho que é inspirador e lema de vida para todos nós. Teresa, seja sempre bem vinda ao "barulho" que não é "ruído" mas confronto de ideias. Seja sempre bem vindo porque conto consigo.
Com amizade.

Anónimo disse...

Tenho a certeza, Raúl, que eu e a Émy nos vamos entender muito bem.
Uma mulher que dá cabo do juízo lá em casa por causa de um texto sabe muito bem o que quer, e é cá das minhas. O que eu gostava de saber é o que nao agradou à Émy no seu texto.
No texto que ela me escreveu, gostei muito, acho que ela deve ter uma forte personalidade, e talvez ela tenha uma pontinha de razao a meu respeito.

Eu já escrevi no blogue do ccz as palavras do Wittgenstein: "se nao podes falar sobre uma coisa, cala-te." Mas eu nao me calei.
Eu gosto de polémicas. O que eu nao sou é uma "cabeca de cimento".
Quero dizer, eu respeito sempre as ideias das outras pessoas.

Termino com uma citacao do ccz, mas nao há letra, só o sentido: numa firma onde há duas pessoas com opinioes iguais, uma está a mais.

Ai, ai, esta família Cruz, eu podia estar todo o dia a citá-los.

Boa noite, amanha é um novo dia para se trocar ideias.

BC disse...

"Somos o que somos por aquilo em que Acreditamos".

"A marca de contraste, nesta era de conformismo, é a capacidade de manter convicções - não obstinada ou provocatoriamente (isso são gestos de defesa, não de coragem),
nem como actos de retaliação, mas, simplesmente são aquilo em que acreditamos.
Fiquem bem!
Ah! O Texto é excelente Raul...

EMD disse...

Eu gosto destas homílias neste palco. Mas acredito, como a Carmo, que se fossem feitas em certas igrejas ...
Quanto a pôr o dedo no ar e intervir, tudo a seu tempo.
Por agora fico pela leitura e meditação.
Um abraço

EMD disse...

Anda um acento a mais ali atrás nas homilias.

Émy disse...

Cara Teresa,

(Só agora me foi possível ter tempo para responder ao seu comentário)

Ao responder ao seu comentário, questionando-a de forma tão directa, claro que para além, evidentemente, de não concordar com o comentário que fez, pretendi essencialmente fazê-la reflectir no que é para si ser religioso, e não apenas no que lhe parece ser... o que a leva a definir uma determinada pessoa como sendo "religiosa" e outras não. E em que medida vê com estranheza o facto de uma dita "pessoa religiosa" não poder acreditar nas teorias de Darwin. Claro que poderá encontrar muitas pessoas nas mais diversas religiões que de certeza corresponderão à “imagem” que construiu na sua mente do que é uma pessoa religiosa”, generalizar é sempre tentador, mas perigoso, porque podemos correr o risco de estarmos a fazer juízos de valor menos correctos! Mas calma, porque todos nós caímos nesta “tentação” de generalizar quando queremos “catalogar” algum povo… algum grupo… etc.

No entanto no essencial a sua opinião acerca de religião e ciência mantém-se contrária à minha, pelo que vi neste seu comentário em que refere: Penso que Darwin ao escrever "A Origem das Espécies" pôs Deus de lado" nunca quis pôr Deus de lado (nunca li nada que dissesse que era ateu ou crente), mas apenas procurou saber quem somos... como aparecemos na terra e como evoluímos, nem que para isso tenha tido que desmistificar a versão sobre a criação do Homem da Bíblia. Ele não poderia nunca ignorar o que as provas... os factos reais lhe demonstravam, para simplesmente aceitar uma "história idílica" que nos é contada por homens que, no tempo em que viveram, não tinham conhecimentos suficientes para poderem explicar, à luz da ciência, o aparecimento do Homem na terra. Seria normal que criassem uma explicação bela e idílica! Para muita gente continua a ser preferível pensar que descendem de Adão e Eva e não de meros símios!

Não sejamos radicais porque é perfeitamente possível as teorias de Darwin e a fé em Deus coexistirem pacificamente. Claro que para isso é necessário que tenhamos uma visão mais ampla da nossa própria fé, não pode ser uma fé “fechada” e estática, terá necessariamente de ser uma fé que se vai alterando ao longo da nossa própria vida, que vai evoluindo ao sabor dos nossas vivências, do nosso grau de conhecimento, das novas exigências dos tempos modernos. Todas estas “mutações” no nosso pensamento que vamos “sofrendo” vão necessariamente obrigar-nos a olharmos a fé de uma forma diferente, talvez até consigamos alcançar uma fé mais “madura”, que não nos deixará certamente “acomodarmo-nos” a meros dogmas... claro que isso nos "dá trabalho"... a fé dá "trabalho", mas ninguém nos disse que ter fé seria fácil... especialmente quando nos deparámos com cenários tão terríveis no nosso dia-a-dia. Quantas vezes questionamos a nossa fé?! São tantas que é melhor nem contar... mas isso também nos faz avançar e evoluir.
Penso que acima de tudo deve haver sensatez na nossa fé... nada de fundamentalismos ou misticismo extremo, não há necessidade de complicar o que é tão simples... façamos o que Jesus, Madre Teresa de Calcutá e tantas outras mulheres e homens “bons”, que viveram a sua vida em prol do bem dos outros, nos tentaram ensinar: o essencial é respeitarmos e amarmos os outros como a nós mesmos. Isto sem esquecermos a ciência que felizmente nos leva a um melhor entendimento sobre o nosso próprio "eu", de onde vimos, o que somos, sobre o que mais nos afecta, e principalmente, na maior parte dos casos, nos faz ter esperança num futuro melhor… e numa sociedade melhor!

Quanto à promessa que fez de nunca mais se meter ao "barulho", está a desiludir-me!... Pois a blogosfera, para mim, só faz sentido quando as pessoas "discutem" ideias, conceitos, opiniões... mesmo (ou especialmente) quando discordam. Se não houver partilha de ideias e opiniões, qual a utilidade dos blogs?
Continue a fazer as suas críticas de forma sincera e sem "rodeios", porque eu continuarei atenta para poder também "meter-me ao barulho”!