terça-feira, 9 de setembro de 2008

"DITOS E ESCRITOS"

Um texto do jornalista Pereira Coutinho que me foi enviado, via mail, pelo meu amigo "Cruzadas":


O FIM ÚLTIMO DA VIDA!


"Não tenho filhos e tremo só de pensar.

Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.


Percebo porquê. Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três,natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores, educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.


Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho,os restaurantes de sonho.


Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.


Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

6 comentários:

Avó Pirueta disse...

Raul, cheia de saudades do teu sorriso, quero dizer-te que já tinha lido com muita atenção este texto. É daqueles de fazer pensar, não é verdade? Só que assuntos destes não são analisados por conhecedores ou, pelo menos, interessados, nos locais em que poderiam pôr as pessoas a pensar.
O último parágrafo é uma excelente mensagem para meditação, preferencialmente em grupo.
Um xi da Avó Pirueta

Anabela Magalhães disse...

Excelente. Também o encontrei assim, De tal forma que já o postei no meu blogue há uns tempos.
Laços, não é assim, Raul?

Anónimo disse...

Eu leio os clássicos. Montaigne foi sempre um dos meus filósofos franceses preferidos.
No entanto, nao tenho uma ideia tao negativa da nossa sociedade moderna.
Sinto-me feliz por viver AGORA, mesmo sem emprego de sonho, sem casa de sonho, sem amigos de sonho, sem férias de sonho, sem restaurantes de sonho... só com um maridinho de sonho.

Nao compreendo como as pessoas podem ver tudo tao negro e estar sempre a criticar, a criticar, a criticar. Nao podiam aproveitar essa energia melhor?
Em todos os tempos houve pessoas que acharam que os tempos antigos tinham sido melhores. Daqui a uns 200 anos quantas pessoas vao dizer a vida feliz que tivemos... e o círculo vicioso continua.

Nao aproveite só o dia, Raúl, pense também positivamente!

renard disse...

Admirável texto este. Tenho de concordar com a pressão que exercem sobre nós para sermos os melhores em tudo. Mas, por sorte, tive uma mãe que apenas pedia que eu fosse humana e que tivesse os valores certos.
Ela sabia, e sabe, que apenas com essas duas premissas poderei encontar a felicidade mesmo assim.
São experiências que passamos na vida e as escolhas que fazemos serão ajustadas em termos de consequências mais tarde na vida...

Um abraço tribal

AnaMar (pseudónimo) disse...

A felicidade pode estar na excelência! dependente do conceito que tem ara cada um de nós, já que "cada indivíduo é uma realidade" :-).

Concordo com a análise geral de um Mundo em evolução, com inversão de alguns valores.

Mas , acreditando que podemos fazer a diferença e tentar inverter a situação, continuo a acreditar nas pessoas, na possibilidade de mudança (alterar mentalidades é o ponto focal e demora tempo) e a sonhar, a viver intensamente cada dia , tentando por no que faço um pouco de mim, e não desistindo de perseguir os sonhos. Porque eles comandam mesmo a nossa vida!

Em todos os tempos, há momentos melhores e piores. A História conta-nos isso. E há sempre custos com o progresso...

Ajudava muito termos Políticos que valorizassem o bem estar comum, em vez do bem estar pessoal. Ajudava muito termos uma Política . E Políticos, porque temos "uma espécie de políticos, sem nível para Governar".

Raul Martins disse...

Sim Carmo, para meditar e sobretudo viver.
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Laços, concidências... É verdade Anabela, é o que nos move.
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E Teresa, plenamente de acordo consigo e fico feliz pela garra que senti nas suas palavras convidando para o lado positivo da vida. É também umas das minhas formas de encarar a vida.
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Olá Renard... certamente deves estar admirada por não me fazer notar no teu espaço. Tenho uma justificação: tens sido um pouco intimista ultimamente e apenas apreciei o que escreveste e não comentei. E parabéns pelas belíssimas férias que passaste.
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Anamar, excelente reflexão. É neste mundo, complexo, sem dúvida,e com todas as suas contigências, que somos chamados a viver acreditando que podemos fazer a diferença. E temos mesmo que fazer a diferença.
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Carpe diem!