A espantosa fotografia de Augusto Brázio de uma 'mulher de 19 anos cujo terceiro filho acaba de nascer em casa' (Lisboa, Fevereiro de 2007), que ganhou o prémio de fotojornalismo de 2008, entra-nos pelos olhos e pelo coração dentro. O gesto frágil e sublime da vida que se acolhe naqueles braços não faz esquecer a realidade de pobreza e dependência que as desigualdades sociais vão criando, especialmente em bairros pobres das grandes cidades. Também nas imagens da fome e escassez de alimentos que vão correndo o mundo, já repararam como as mulheres, com filhos ou não, são as que mais aparecem a pedir um pouco de alimento? No viver de cada dia passa tantas vezes por elas este cuidado essencial e primeiro de dar de comer! E quando não há, quando uns esbanjam o que podia servir para tantos, como fica dorido o seu coração? Leio, como se recebesse um murro no estômago, um estudo das Nações Unidas citado por Matilde Sousa Franco: 'As mulheres são metade da Humanidade, realizam dois terços do trabalho, ganham dez por cento das receitas e têm um por cento dos bens' (Correio da Manhã). Quantos passos ainda tem o Espírito Santo de nos 'obrigar' a dar, quantos preconceitos e mentalidades a mudar, para que homem e mulher tenham uma mesma dignidade e um igual acesso aos bens do mundo?
Celebrar o Espírito Santo é celebrar a vida. O que ela já é, mas ainda mais, o que ela pode e quer vir a ser. Sem Ele instalamo-nos em leis e burocracias, justificamos a inércia e os privilégios só para alguns, declaramos como perfeito aquilo que ainda está a caminho. Com Ele recuperamos a alma e sorrimos mesmo nas dificuldades, gostamos dos outros e abrimo-nos ao diálogo, damos as mãos à surpresa e ao risco. Sem o Espírito Santo complicamos e ganhamos úlceras, com Ele apreciamos o que é novo e anunciamos o que é belo. Que pede o Espírito Santo ao mundo e à Igreja para esta 'metade da humanidade' que é a mulher? Como nos ouvimos e juntos crescemos a proclamar as maravilhas de Deus?