“Aprende-se pouco
das pessoas que não são importantes para nós”
Zenita Guenter
Devagar que tenho pressa!... Respeitemos o ritmo de aprendizagem da criança e do aluno se queremos que eles venham a chegar longe. Educar para o desenvolvimento e para a responsabilidade não é ir depressa, mas chegar longe.
“...Vai-se pondo degrau após degrau,
até que atinja a maior altura possível
segundo a vocação
e a força que haja em cada um”
Agostinho da Silva
Justo sim, santinho não! Interessa mais ajudarmos o jovem a compreender o sentido da diferença, dos outros e de alguns princípios do que exigir-lhe que seja obediente e bem comportado. Interessa, enfim, que ele, e nós próprios, sejamos mais justos do que “santinhos”.
Bonitos? Claro que sim! A beleza ajuda ao desenvolvimento. Como querer que os jovens sejam bons e inteligentes, se não os educarmos para serem sensíveis à beleza?!
Castigar? Não, por favor! O castigo é uma óptima coisa! Desde que não utilizada! É ineficaz enquanto prática de socialização, causa mal-estar em quem o recebe e leva a contra-ataques.
O enigma da felicidade: Decifre-o! Se queremos ajudar a construir a felicidade de alguém, não podemos passar a vida a dar-lhe ordens, ainda que disfarçadas de pedidos. Estimulemos antes o seu sentido de competência e de controlo sobre as coisas.
“impõe-se, na nossa comunicação,
fazer crescer a apetência pelo saber,
a vontade de investigar e de criar...
cada um sentir-se útil e, por isso, melhor e mais feliz.”
J. Gil da Costa
Faça-o pró-social! Quem é altruísta e ajuda os outros, também ganha com isso. Educar os jovens para a responsabilidade social é uma forma de os educar para o desenvolvimento e para os valores. Uma forma, pois, de diminuir a indisciplina na escola e a delinquência na sociedade.
Sim à pessoa, não à posição! Eduquemos os jovens no sentido da justiça ou do respeito pela pessoa, não no sentido da posição ou da reverência para com os poderosos e distribuidores de favores. Enquanto as escolas e famílias pessoais promovem o desenvolvimento, as famílias e escolas posicionais dificultam-no.
Auto-estima: Estime-a, por favor!
Obedecer aos professores: Porquê? O respeito mútuo é mais justo e pedagógico do que o respeito unilateral exigido por alguns professores aos seus alunos.
Os professores também têm direitos! Não pensemos que temos de viver apenas para promover o desenvolvimento e a felicidade dos nossos alunos. A nossa felicidade de professores ajuda, não dificulta, a felicidade dos alunos.
Mais interacção, menos discurso! Se queremos que os nossos alunos não sejam alunos difíceis, falemos com eles, não falemos apenas para eles. Professores autoritários tendem a fazer discursos; professores competentes tendem a interagir com os seus alunos.
O enigma da criatividade: Decifrável? A criatividade não é um dom da natureza, nem algo só para os sobredotados. Todos os alunos são capazes de condutas criativas. Se estimularmos o seu sentido de competência, de auto-estima e de participação ajudá-los-emos a serem mais criativos.
Dever mas também aspiração! A escola fica aquém da sua missão quando educa só para o dever. Importa muito estimular os alunos a irem além do dever e a gostarem de alcançar padrões de excelência. Quanto mais a escola educa só para o dever, tanto mais confere títulos sem conteúdo. Ainda que sejam de mestre ou de doutor!..
Penso, logo educo! Os professores que não se limitam a pôr rótulos aos comportamentos negativos dos seus alunos, procurando antes compreender as situações que lhe dão origem, são professores perspectivistas, professores que, em geral, têm menos indisciplina e problemas de autoridade nas suas turmas.
Também tenho dúvidas! Educar para o desenvolvimento e para a responsabilidade é mostrar às crianças e aos jovens que fazer perguntas e ter dúvidas pode ser tão importante quanto dar respostas e ter certezas. Educação que não ensina a questionar é educação sem qualidade.
Educar para a paz. Educar para a justiça. Os outros também existem!
Todos, muitos e só eu! Uma forma competente de educar os alunos para a cidadania e responsabilidade é ajudá-las a ver que cada um de nós é, em muitos aspectos, igual a todos os outros: sentido de universalidade; semelhante a muitos outros, em vários pontos de vista: sentido de pertença e de comunidade; e diferente de todos os demais em questões de foro íntimo: sentido de individualidade.
O seu ao seu dono: amor, contexto e actividade. Para a criança se desenvolver precisa de ser amada, ter contextos ricos em quantidade e qualidade e liberdade para agir e para explorar o meio. Quanto mais estes aspectos estiverem presentes menos serão prováveis as crises de disciplina na escola.
É acreditar que estamos a preparar jovens para o futuro que, como há tempos li do nosso cientista Carvalho Rodrigues “é muito novo, porque é muito antigo, e vem em todos os livros sagrados: É que, um dia, nós, em vez de comunicar, vamos comungar. E nesse dia, o bem de um é o bem de todos, o mal de um será o mal de todos.”
A transformação das escolas em comunidades justas é uma das maneiras mais pedagógicas e humanas de lidar com a questão da crise de disciplina que parece ter invadido as famílias, as escolas e a sociedade. Tal transformação é fácil de referir mas difícil de incrementar.
Não cometamos o erro educacional fundamental! É melhor que a escola elogie o aluno quando se comporta bem do que o censure ou castigue quando se comporta mal. Achamos que a criança mais não faz que o seu dever quando se comporta bem, nada merecendo por isso, mas deve ser castigada quando se comporta mal.
Eu sou capaz!... É muito educativo que a família e a escola promovam o sentido de auto-eficácia da criança e do jovem. Se a escola e a família ouvirem a sua voz em problemas que lhes dizem respeito, ajudá-los-ão a ser mais autónomos, por um lado, e mais próximos dos colegas, pais e professores, por outro.
Educar para o perdão? Sim, mas é melhor educar para a justiça. Às vezes somos obrigados a pedir perdão sem ter feito mal nenhum!
Sim, mas ainda não! As crianças e os jovens também devem aprender a auto controlar-se, ou a perceber que não podem fazer e ter tudo o que gostam “agora e já”. Muita indisciplina e delinquência tem a ver com a ideia de que se pode ter quase tudo sem quase nada fazer.
Penso, mas também sinto! É importante que a escola eduque para a inteligência, literacia e razão (os chamados três “Rs”: “reading, writing e reasoning”), mas também para o afecto, intimidade e emoção (os três “Cs”: “care, concern e connection”).
Brincar também é importante!
Se a escola não fosse tão aborrecida; se na escola houvesse mais comunicação e afecto; se os professores forem modelos de coerência, auto-respeito e responsabilização…. Não haveria na escola tanta crise de disciplina; crises de disciplina, contudo, sempre as houve e haverá.
Bibliografia:
Lourenço, O. (1993). Crianças para o amanhã. Porto: Porto Editora.
Lourenço, O. (1996). Educar hoje crianças para o amanhã. Porto: Porto Editora.